quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sobre o atentado terrorista de Oslo e o massacre de Utøya a 22 de Julho

O que tem existido de violência política na Noruega tem sempre partido da extrema-direita. Enquanto a atenção da polícia se concentrava nos «radicais islâmicos», a violência da extrema-direita teve novamente lugar, desta vez a uma escala particularmente grande, cruel e sangrenta! A NSF-AIT já expressou as suas condolências às vítimas deste terrorismo sangrento e gostaria de fazer a declaração que se segue.

Introdução

Como introdução, diremos que existe um clima perigoso no capitalismo dos nossos dias, que afecta muitos países, incluindo a Noruega:

- O capitalismo atravessa uma crise grave. Os Governos levam a cabo programas de austeridade e tornam-se estados policiais. O desemprego cresce. Os imigrantes tornam-se bodes expiatórios para os problemas e os refugiados são deportados. Na Noruega, as pensões do sector privado sofrem cortes com o apoio da confederação sindical LO, e outros cortes estão a ser preparados.

- O governo Vermelho-Verde [coligação da esquerda e dos centristas] deportou 4615 refugiados em 2010 e, até à data, 2000 no presente ano.

- O capitalismo global explora e conduz guerras. A maior ameaça após o 11 de Setembro provém do Islão radical/grupos terroristas. A Noruega participa nas guerras da Líbia e do Afeganistão, a que se dão o nome de «operações humanitárias», etc.

- Organizações como a Associação Patronal dizem que as vagas de imigrantes, reformados e pessoas a receberem prestações sociais ameaçam o Estado Social e que a imigração/os imigrantes com baixos níveis de instrução provenientes de países não-ocidentais não são sustentáveis e que, em seu lugar, a Noruega deveria importar trabalhadores altamente qualificados. O governo já solicitou relatórios públicos sobre estes assuntos.

- Os partidos que pressionam por uma política reaccionária. Na Noruega, o Partido do Progresso tornou-se no segundo maior partido, obtendo 41 deputados nas eleições nacionais de 2009. Os imigrantes de «origem muçulmana» são discriminados. Behring Brevik foi, a certa altura, membro deste partido.

- A extrema-direita. Os nazis e fascistas/extrema-direita são pouco numerosos na Noruega, pelo menos no que respeita às suas mobilizações de rua, mas os sites da nova extrema-direita na internet gozam de uma grande audiência e apoio às suas ideias!

O Fascismo Actual

O terrorista e maçon Anders Behring Breivik provém da parte ocidental de classe alta de Oslo e, justamente antes de levar a cabo estas terríveis acções, publicou o seu manifesto. Ele descreve os cruzados cristãos ao longo da História e até aos nossos dias, assim como os preparativos que fez e que, segundo o próprio, foram concluídos algumas horas antes dos terríveis ataques de 22 de Julho.

As opiniões expressas pelo assassino fazem parte de uma mudança política e cultural mais vasta, que toma lugar à medida que os grupos, organizações e sites xenófobos e anti-islâmicos ganham raízes na Europa. Eles dizem estar a atacar o Islão por razões alegadamente culturais, e que são anti-racistas, anti-fascistas, anti-totalitários, etc., mas, que isto se torne claro, essa é apenas uma fachada criada para conseguirem uma audiência mais vasta. Os pontos de vista de Behring Breivik têm claramente as características do Fascismo:

- Nacionalismo ou identitarismo Europeu, super-patriotismo com uma missão histórica.

- Os Muçulmanos substituem os Judeus no papel do inimigo a combater e a expurgar da Europa. O Islão é visto como uma ameaça existencial ao mundo e os líderes [políticos] e os governos tornam-se colaboradores, ao permitirem que o Islão infiltre o Ocidente.

- Teorias da conspiração. Os Protocolos dos Sábios de Sião foram criados na Rússia em 1903. Mesmo já tendo sido provados como falsos antes de os nazis os terem introduzido nas escolas alemãs, em 1933, foram utilizados como «prova» de que os judeus se estavam a preparar para dominar o mundo. Agora temos a conspiração da Eurábia. A mesma refere-se a um suposto protocolo dos anos 70 entre os países árabes e os estados europeus onde que os europeus consentiriam em permitir aos muçulmanos «invadir» a Europa.

- O uso do termo nazi/fascista de «Judeo-Bolchevistas» é substituído pelo de «Islamo-Marxistas Culturais».

- Populismo e elitismo. As massas devem ser mobilizadas, mas apenas como ferramenta para os seus pensamentos e planos elitistas de estabelecer a ditadura.

- A glorificação fascista da violência e o emprego de terminologia militar: os muçulmanos estão a ocupar a Europa, a demografia é a sua arma, existe um plano secreto entre eles e os traidores marxistas-culturais, etc.

Nisto se inclui ainda a glorificação das chamadas ordens militares. Behring Breivik escreve que se encontrou com outros, provenientes de toda a Europa, assim como com um «cruzado sérvio» e «herói de guerra» que matou muitos muçulmanos em batalha. Por causa da União Europeia, ele deve ser processado por alegados crimes contra os muçulmanos.

Não deve haver qualquer dúvida em como tudo isto se insere numa linha violenta que segue ao longo da História e que Behring Breivic faz claramente parte desta tradição. O atentado terrorista que matou 8 pessoas em Oslo e o massacre de Utøya, que assassinou 69, sobretudo jovens entre os 14 e os 22 anos de idade, foram considerados pelo governo e pela imprensa como o maior ataque desde a Segunda Guerra Mundial, quando os nazis ocuparam a Noruega.

A canção «À Juventude», de Nordahl Grieg canta-se nestes dias por toda a Noruega. Infelizmente, os media dão pouca informação sobre as origens desta canção, criada para combater os fascistas em 1936. O levantamento fascista que ocorreu há 75 anos atrás na Espanha foi, em muitos lugares, combatido pelas trabalhadores, que também tomaram as indústrias e os campos.

O fascismo moderno deve ser combatido sem que nunca se esqueçam as lições dos trabalhadores espanhóis. A classe trabalhadora deve combater simultaneamente contra o fascismo e pelas suas condições e direitos laborais! E, em última análise, vermos-nos livres do fascismo de uma vez por todas significa vermos-nos livres do sistema que, continuamente, o deixa (re-)emergir – o capitalismo.

Oslo, 2 de Agosto de 2011

NSF-Secção Norueguesa da AIT