Uma crónica do Primeiro de Maio Antiautoritário e Anticapitalista em Lisboa, retirada da Rede Libertária:
A partir das 16 horas, várias dezenas de pessoas foram comparecendo no Jardim do Príncipe Real. No local era visível a presença ostensiva de polícias à civil, para além do constante assédio de jornalistas a fotografarem e filmarem, procurando, inutilmente, organizadores e representantes. As pessoas foram chegando e, face ao descrito, umas tapavam a cara, outras não, enquanto vários panfletos iam circulando e a conversa se punha em dia, tentando evitar os ouvidos teleguiados da democrática bufaria.
Pouco antes das 17 horas, havendo já umas cem pessoas no local, foram abertas várias faixas: “Contra a exploração, acção directa!”, “Os bancos roubam-nos a vida. Iremos ao seu assalto!”, “Capitalismo: nem a sua crise nem a sua prosperidade!”, “Consumo, logo existo. Penso, logo esbanjo”.
A manifestação partiu então, cortando o trânsito num sentido e dificultando-o no outro, pela rua D. Pedro V, descendo as ruas de S. Pedro de Alcântara e da Misericórdia. Gritaram-se, em crescendo, frases contra o capitalismo, o Estado, os media e a polícia: “União, acção, insurreição, contra toda a opressão!”, “Nem Estado, nem patrão. Autogestão!”, “A, Anti, Anti-Capitalista!”, “Diário de Notícias: Diário de Polícias”, “Alerta! Alerta! Surto de gripe policial”, “A liberdade está nos nossos corações! Nem prisões, nem bófia, nem pátrias nem patrões”, “Os bancos estão-nos a queimar. Queimemos os bancos”, entre outras.
Entretanto, mais algumas dezenas de pessoas se foram juntando à manifestação. Já na rua Garrett continuou-se a gritar bem alto: “A vossa repressão só nos dá mais paixão!”.
Até ao Chiado a única presença aberta da polícia, para além dos inúmeros agentes à paisana, foi a de um carro patrulha que seguiu a manifestação. A partir do Chiado, um grupo de polícias a pé e em motorizadas esforçou-se por controlar o percurso. Mas em todo o momento a manifestação seguiu o percurso pretendido pelos manifestantes.
Na Rua do Carmo, local do violento ataque da PSP contra a manifestação antiautoritária contra o fascismo e o capitalismo de 25 de Abril de 2007, as gargantas esmeraram-se: “Aqui estamos outra vez, sem medo, sem lei”; “Um povo organizado vive sem Estado”. Algumas lojas fecharam as portas e colocaram seguranças à porta...
Continuou-se até ao Rossio, onde a manifestação contornou a festa da União de Sindicatos Independentes, contrastando as nossas palavras de ordem com a actuação de um rancho folclórico em pleno palco, por certo lembrança de velhos tempos em que se comemorava a “alegria no trabalho”...
A manifestação terminou na Praça da Figueira, após o que os manifestantes foram dispersando.
Para nós, o balanço da manifestação é globalmente positivo. Mais de cem pessoas apareceram e assinalaram um Primeiro de Maio combativo, anti-autoritário e anticapitalista, independente das restantes iniciativas que tiveram lugar na mesma tarde. Isto, apesar das tentativas levadas a cabo pela polícia para, através de uma campanha de intimidação e desinformação por meio de artigos publicados na imprensa, isolar e assustar as pessoas que se identificassem com a convocatória e pudessem aparecer. Não deixa de ser positivo haver mais de cem pessoas que não se deixaram intimidar.
A vossa repressão só nos dá mais paixão!
anónim@s