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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um relato sobre Greve Geral de 24 de Novembro: Acções da AIT-SP em Lisboa e no Porto

Esta foi a primeira greve geral convocada conjuntamente pela CGTP e pela UGT nos últimos 22 anos e isto, por si só, deveria lançar alguma luz sobre a situação social neste país. De facto, a conflitualidade social em Portugal é bastante baixa e o número de greves tem vindo mesmo a descer nos últimos 30 anos, apesar da degradação da situação da classe trabalhadora. As taxas de sindicalização também tendem a baixar, dado que as duas principais centrais sindicais portuguesas, controladas por partidos políticos, servem mais para tranquilizar e conter os conflitos do que para lutar contra a exploração, e isto não tem passado despercebido.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Cimeira da NATO em Lisboa: Nas vésperas da Greve Geral, o terror do Estado impôs-se sobre o protesto autónomo

A Cimeira da NATO, realizada nos dias 19 e 20 de Novembro em Lisboa, poucos dias antes da Greve Geral de 24 de Novembro, foi objecto de um conjunto de acções e manifestações de protesto, contra os quais foi mobilizado um conjunto inédito de meios policiais. A contestação contra a NATO e a guerra ficou claramente marcada pela divisão entre o protesto “autorizado” e “não autorizado” e pela separação preventiva entre meios de protesto ditos “violentos” e “não-violentos”.

Para além do conjunto de acções e pequenas manifestações que decorreram sobretudo entre o dia 18 e o dia 21, destacamos dois protestos que tiveram lugar no dia 20.
Um destes protestos foi a acção levada a cabo na manhã de dia 20 nas imediações do Parque das Nações, na qual várias dezenas de activistas bloquearam durante algum tempo, com os próprios corpos, uma das vias de acesso ao local de realização da cimeira. Em resultado desta acção foram detidas 42 pessoas, que foram levadas para o tribunal de alta-segurança de Monsanto, situado num local isolado e afastado do centro de Lisboa, onde permaneceram largas horas sem direito a falarem com um advogado.

Outro protesto, que destacamos, foi a manifestação realizada durante a tarde na Avenida da Liberdade, no centro de Lisboa, na qual terão participado cerca de 30 mil pessoas. Esta manifestação, “autorizada”, foi convocada pela plataforma “Paz Sim, NATO Não”, composta por cerca de 100 organizações com predominância do Partido Comunista Português e de sindicatos da CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses). Para o mesmo local e hora foi lançada uma convocatória da Plataforma Anti-Guerra Anti-NATO (PAGAN), responsável pela organização, entre outras iniciativas, de uma contra-cimeira no Liceu Camões. As cerca de 500 pessoas que acudiram a esta convocatória, “não autorizada”, foram tratadas pelas autoridades e pelo serviço de ordem da manifestação “autorizada” como um perigo público, isoladas do resto da manifestação e cercadas por três linhas de polícias do Corpo de Intervenção, que impediram, ao longo do percurso, que qualquer pessoa entrasse ou saísse do quadrado a que estavam confinadas.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Resumo do conflito com o cinema Babylon antes da ilegalização da FAU de Berlim


Artigo em galego que resume o conflito da FAU-Berlim com o cinema Babylon, antes do processo que levou à sua ilegalização, publicado no site da CNT-Galiza.


 O cinema Babylon, localizado no distrito Mitte de Berlin, conta con unha tradición cinematográfica de máis de 80 anos. Encontra-se nun edificio histórico protexido e seu programa de filmes de autor garantiza-lle o éxito nunha cidade moderna como Berlin. Infelizmente isto non se traduciu en unhas condicións laborais dignas. Con poucas perspectivas de que as cousas melloraran, os seus traballadores decidiron tomar cartas no asunto.

Estaban fartos dos míseros soldos (5,50-8,00 euros/hora), de despidos arbitrários, de non receber pluses de nocturnidade e fins de semana, etc., é dicer, de traballar en unhas condicións totalmente precárias. De facto, o próprio director do cinema admitiu que os salários estaban apenas por cima do nível de vida en Alemaña. Ditas condicións laborais eran especialmente escandalosas nun cinema muito coñecido pola proxección de filmes esquerdistas e sociais, e que, ademáis, recebe subvencións anuais de centos de milleiros de euros do Senado de Berlin.

Para tratar de conseguir melloras, uns cantos traballadores decidiron organizaren-se na "Freie ArbeiterInnen-Union" (FAU; Unión de Traballadores Livres) en xaneiro de 2009. Acercaron-se à FAU porque esta organización é fiel aos seus princípios de base e porque un dos seus compañeiros xa conseguira axuda no sindicato.

domingo, 24 de maio de 2009

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A “crise” do sistema financeiro. Será que os parasitas “foram longe demais”?

A “crise” do sistema financeiro mundial, consequência da voracidade intrínseca dos capitalistas pela obtenção de mais e mais lucros, que os levou, sobretudo nos EUA, a darem crédito para compra de habitação, garantido pela hipoteca da própria casa “comprada”, a pessoas que sabiam perfeitamente incapazes de pagar os juros correspondentes, não se deve, ao contrário do que é afirmado nos mass media, a um funcionamento deficiente dos sistemas de controle das bolsas americanas, que deveriam ter impedido a proliferação de títulos baseados nas hipotecas cujo “valor” não assentava em nenhuma criação real de riqueza e que foram rechear os “activos” de bancos e empresas pelo mundo fora.
Não, o sistema não funcionou mal, pelo contrário. Os lucros da finança e da banca – as remunerações dos respectivos accionistas e gestores bem o demonstram – cresceram exponencialmente até ao máximo que conseguiram com este método. Agora, preparam-se para mudar de método e recorrer ao Estado, isto é, aos impostos que foram cobrados aos chamados cidadãos, supostamente para serem utilizados em seu benefício, não para, por exemplo, construir hospitais ou atenuarem o empobrecimento progressivo da população, mas para comprar os tais “activos” que nada valem e reporem a banca e a finança a funcionar em pleno para nova fase de acumulação de capital.
Observando bem, a origem da “concessão” de crédito de alto risco está no facto, absurdo para os capitalistas, de, por exemplo nos EUA, ainda existirem, há coisa de uns dez anos, milhares e milhares de americanos ainda não completamente apanhados pelo sistema financeiro, e a quem, tudo somado, ainda podiam espremer uns quantos milhões de dólares. Se não pudessem pagar os empréstimos a tempo e horas tudo bem, iriam acto contínuo para a rua através da execução das hipotecas, como já sucedeu a milhares de famílias americanas. E, agora que o preço de venda das casas hipotecadas, com tanta casa à venda, caiu de tal modo que nem em leilões as conseguem vender por preço que assegure a continuação do negócio, que fazer? Simples, serão todos os contribuintes, incluindo esses mesmos que essas empresas imobiliárias puseram na rua que vão pagar, através do chamado erário público para o qual contribuíram praticamente desde que nasceram... para “recuperar” a situação de “descalabro” financeiro a que chegaram.
São caso exemplar os dois “gigantes” americanos do crédito hipotecário, a Freddie Mac e a Fannie Mae: do bolo astronómico de 700 mil milhões de dólares que a administração americana vai oferecer a várias grandes empresas e bancos americanos, quase um terço, 200 mil milhões, destinam-se a “salvar” essas duas.
Note-se que, na mesma semana em que o Estado americano anunciava esse “pacote” de “ajuda à economia” e de “correcção ao mau funcionamento do mercado”, Jacques Diouf, director da ONU-FAO, denunciava um aumento de 75 milhões de pessoas a passar fome no mundo, em 2007, comparando com 2006 (o que eleva para 925 milhões a estimativa do número total de pessoas que passam fome hoje em dia), e que, segundo os próprios cálculos daquela organização, “será preciso investir 30 mil milhões de dólares por ano para duplicar a produção alimentar e eliminar a fome no mundo”, ou seja, uma pequena parte do que a versão actual da “ajuda” estatal vai entregar à Freddie Mac e à Fannie Mae. Claro que o que Jacques Diouf certamente sabe, mas não diz, é que o objectivo real dos capitalistas nunca foi, nem será, matar a fome à pobreza.
Esta soma colossal de 700 mil milhões de dólares será certamente tirada de alguma cartola de mágico, pois que, segundo sempre dizem, nunca há dinheiro para, por exemplo, impedir uma simples falência de uma empresa, que vai atirar mais uns tantos trabalhadores para o desemprego, mesmo nos casos em que é o próprio Estado um dos seus grandes credores directos. Claro que, neste caso, a “mão invisível do mercado” estará a funcionar em pleno e sem precisar da ajuda correctora do Estado...
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Para nós, o capitalismo é sempre essencialmente igual a si próprio, mais “liberal” ou mais “intervencionado”, mais “livre” ou mais “regulado”, mais “privado” ou mais “estatal”: em termos voluntariamente simplistas, é uma máquina muito bem oleada de fazer fortuna e granjear poder para alguns à custa da exploração e do empobrecimento de muitos.
Não, os parasitas não “foram longe demais”. Eles preferirão sempre arrastar-nos a todos para o abismo a abdicar do que quer que seja, a não ser para ainda melhor perpetuar a sua própria existência, servindo-se do aparelho de Estado para tentar garantir por todas as formas, incluindo pelas armas se necessário, a sua sobrevivência. Não resta de facto alternativa ao capitalismo a não ser a sua destruição.
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António Mota
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Ao contrário do que se poderia esperar, os gestores ligados aos bancos e às empresas que supostamente entraram em “colapso” devido à chamada crise do crédito de alto risco, dos quais aqui apresentamos alguns, foram recompensados pelos lucros fabulosos que proporcionaram aos respectivos accionistas. No caso de John Thain, contemplado com um bónus de 10,6 milhões de euros pelo seu “desempenho” durante o ano de 2007, trata-se do presidente executivo da Merril Lynch, que apenas entrou naquela corretora em Dezembro. Nada mau, como recompensa de um mês de “trabalho”...
Nos EUA, tanto os ordenados como os bónus dos gestores financeiros estão directamente ligados aos lucros obtidos pelas empresas – não dá sequer para imaginar quais terão sido os lucros da Merril Lynch em todo este período de “crise”.
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domingo, 11 de maio de 2008

A “crise” do sistema financeiro

A “crise” do sistema financeiro internacional soma e segue e, como de costume, afecta sobretudo os trabalhadores, desempregados, jovens, imigrantes, pensionistas e outros deserdados. Para os capitalistas, a lógica é sempre a mesma: continuarem a encher-se à custa do trabalho alheio e da especulação bolsista, indiferentes às consequências que daí possam advir para a humanidade, como mais uma vez o demonstra a crise financeira desencadeada, desde o início do ano passado, pela especulação desenfreada gerada pelo mercado do crédito à habitação nos EUA. Este tipo de crédito foi imediatamente revendido por uma pequena parte do seu “valor” a outras instituições de crédito (a titularização dos créditos), o que por sua vez possibilitou novas operações de crédito e novas titularizações, e permitiu um rápido aumento do “valor” formal de muitas instituições financeiras e grandes empresas em todo o mundo que adquiriram estes títulos, aumento esse baseado no endividamento de dezenas de milhares de famílias americanas. Claro que, quando os compradores deixaram de poder pagar as prestações das casas e o valor de mercado destas, hipotecadas pelos bancos, tinha entretanto baixado e deixara de cobrir os empréstimos, todo este esquema começou a ruir como um castelo de cartas, o que se traduziu na restrição e encarecimento do crédito bancário em geral, com o consequente estrangulamento de toda a actividade económica – na linguagem eufemística dos economistas, a crise começou a afectar a “economia real”.

Porém, todos nós já sabíamos que este esquema, em que a “riqueza” parecia surgir do nada, não se podia manter indefinidamente. E como, apesar dos repetidos avisos que os economistas de serviço vão sempre fazendo (que o investimento especulativo não pode ultrapassar um certo patamar relativamente ao investimento produtivo, isto é, na chamada economia real) o chamariz da obtenção fácil e rápida de lucros chorudos atrai irresistivelmente os parasitas de toda a ordem, a “crise” do sistema financeiro não tem cessado de se agravar e de alastrar a nível mundial.

As consequências da especulação financeira são de tal modo devastadoras, que a Organização Internacional do Trabalho, no seu relatório anual Tendências Mundiais do Emprego, divulgado em 23 de Janeiro passado, já previa que “cinco milhões de pessoas podem este ano perder o emprego devido à turbulência da economia internacional provocada pela crise nos mercados de crédito e pelo aumento dos preços do petróleo.”(*).

Agora, chegou a vez do próprio presidente da Reserva Federal norte-americana, Ben Bernanke, vir a público reconhecer que talvez bastasse que os bancos desistissem de uma parte dos seus lucros para que se conseguisse atenuar os efeitos da crise actual. Depois de, desde Setembro passado, terem sido dadas várias “explicações” para o desencadeamento da “crise” e propostas várias medidas (a culpa seria do excesso de crédito e dos especialistas encarregados de avaliar o “valor” bolsista das empresas cotadas em bolsa, a solução seria todas as empresas cotadas deixarem de aldrabar nos seus relatórios e assinalarem claramente os valores fictícios aí incluídos, ou então as instituições de crédito alargarem o prazo de reembolso dos mesmos), Ben Bernanke, no dia 4 de Março, lá acabou por sugerir nada mais nada menos do que o perdão, pelos bancos, de parte dos empréstimos, como forma de suster o agravamento da “crise”, o que para estes deve constituir a suprema heresia.

Esta conclusão, a que Bernanke penosamente chegou, apenas vem confirmar o que nós temos afirmado ao longo do tempo: que o verdadeiro responsável pela miséria e constante degradação das condições de vida da população mundial é o sistema capitalista, baseado na remuneração crescente dos capitais investidos, o que, devido ao aumento contínuo da concorrência inter-capitalista, se torna cada vez mais difícil e conduz, periodicamente, a guerras cada vez mais destrutivas e cada vez mais frequentes, que possibilitam novo ciclo de “desenvolvimento” e de acumulação do capital, baseado na reconstrução do que foi destruído, financiada por “generosos” grupos de investidores, como verificámos, por exemplo, nos casos da ex-Jugoslávia e do Iraque.

Aos trabalhadores, oprimidos e desapossados em geral, não resta mesmo outra perspectiva que não seja a necessária expropriação dos expropriadores, a destruição desta sociedade iníqua e a sua substituição por um meio social assente na liberdade individual, na igualdade social, na cooperação pelo livre acordo, na ajuda-mútua e na solidariedade.

António Mota

(*) Referido no jornal “PÚBLICO” de 25/1/2008 – sublinhado nosso.

artigo publicado no Boletim Anarco-sindicalista nº 26 (disponível para descarregar em pdf aqui)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

NOVO CÓDIGO LABORAL

Flexi-segurança? Não, que ideia, trata-se apenas de: - Simplificação... dos despedimentos
- Agilização... do horário de trabalho
- Precarização... do emprego

Com vista à próxima revisão do Código do Trabalho, o Governo nomeou há vários meses mais uma “comissão de sábios”, desta feita para elaborar o “Livro Branco das Relações Laborais”...

Tornou-se habitual o Governo nomear uma comissão de “especialistas” a fim de nos esmagar na nossa ignorância e, escudando-se nas conclusões e propostas de meia-dúzia de “conhecedores”, decidir as reformas a efectuar. Foi assim na Saúde, com o fecho, total ou parcial, de Maternidades, Urgências e Serviços de Atendimento Permanente um pouco por todo o país; foi assim com a incineração de lixos tóxicos nas cimenteiras; etc. Claro está que estes “doutores” propõem reformas... para os outros, nunca para eles próprios. É o velho sistema da separação entre governantes e governados, uns quantos a decidir e os outros a sofrerem as consequências dessas decisões: nunca se viu um administrador da Carris, por exemplo, a usar o metro ou o autocarro para se deslocar, nem um ministro da Saúde ser operado num dos hospitais públicos que tutela, nem um Governador do Banco de Portugal a apertar o cinto ou a ser alvo da moderação salarial que recomenda em nome da “economia nacional” ou da diminuição do “défice”.

O que a Comissão do Livro Branco agora propõe, embora já não se denomine “flexi-segurança”, por ser demasiado óbvio que se trataria de aumentar a “flexibilidade” sem nada acrescentar de tangível à segurança, é, claramente e como sempre, facilitar o despedimento, para o que inventou uma nova figura: a inadaptação ao posto de trabalho (avaliada, claro está, por “especialistas” no assunto), que, associada às restantes propostas de simplificação dos despedimentos, de alargamento ou diminuição dos horários de trabalho normal consoante as “necessidades” da empresa (desde que não ultrapasse... 50h semanais) e de diminuição dos prazos máximos para os contratos a prazo, coloca ainda mais os trabalhadores nas mãos dos empresários, que disporão de mais alguns meios de aumentar tranquilamente, e dentro da lei, a exploração a que os trabalhadores já estão sujeitos.

E, claro, os enormes lucros, quer das empresas públicas ou com participação estatal (GALP, EDP, CTT, CGD, etc) quer das empresas privadas, com a parte de leão para a banca e a finança em geral, continuarão inexoravelmente a aumentar, de ano em ano, com uma ou outra excepção de falência de algumas grandes empresas como tem acontecido ultimamente devido à especulação desenfreada no mercado de capitais, relacionada com o crédito à habitação nos EUA. Falências essas, de resto, que o são unicamente para os trabalhadores, que se vêem atirados para o desemprego, e nunca para os respectivos administradores ou gestores, que são geralmente “reconvertidos” noutros cargos do mesmo tipo com remunerações igualmente chorudas.

Não podemos, de modo nenhum, deixar que nos enredem em discussões de “especialistas” em relações laborais, uns defendendo umas soluções e os outros outras soluções, mas todos com o mesmo objectivo de “melhorar”, “aperfeiçoar”, “adaptar” o capitalismo de modo a perpetuá-lo e a garantir a acumulação de capital necessária à obtenção de lucros cada vez maiores e ao usufruto, por uma pequena parte da população, da situação privilegiada inerente à sua posição social.

Não nos deixemos enganar com o tão propalado “novo paradigma” do nosso tempo, no qual não seria possível garantir nenhuma espécie de segurança e de estabilidade laboral, num novo tipo de capitalismo “globalizado”. O que de facto sucede é que o capitalismo é, cada vez mais, um obstáculo à felicidade de todos e de cada um, apenas conseguindo sobreviver através da imposição de condições de vidas inumanas à grande maioria da população. No que respeita ao novo Código do Trabalho que se anuncia, a nossa única resposta possível será a recusa liminar de qualquer alteração que o Governo venha a tentar impor, sob a capa da “adequação” dos contratos de trabalho aos tempos actuais. E será bom nunca perdermos de vista que estes governantes, como, de resto, os que os precederam e os que se lhes seguirão, são meros capatazes ao serviço da banca e da finança, e que serão “adequadamente” recompensados se conseguirem aumentar ainda mais a rentabilidade dos capitais investidos, na produção ou na especulação bolsista.

Defendamos as nossas condições de vida, conquistemos novos direitos, através da auto-organização e da confrontação directa com quem directamente nos explora e oprime, sem delegarmos em ninguém a capacidade de decidir sobre aquilo que nos afecta. Defendamo-nos contra os ataques que continuarão a surgir, mas com a certeza de que, mais tarde ou mais cedo, será necessário passarmos à ofensiva e construirmos um novo tipo de sociedade.

António Mota

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Lutas sociais na Rússia

Dos nossos companheiros da KRAS (secção russa da AIT), chegaram-nos informações acerca da situação social na Rússia e das lutas sociais e libertárias que irromperam neste país, nos últimos meses.

Carestia de vida e greves na Rússia
O último ano na Rússia foi marcado por uma acentuada degradação das condições de vida, associada à inflação galopante (os preços subiram 50 a 70% entre Janeiro e Novembro de 2007). Esta degradação nas condições de vida da maioria dos trabalhadores tem levado à irrupção de diversas greves reivindicando aumentos salariais.
Segundo a KRAS, esta situação deve-se à estrutura criminosa do sistema social, político e económico da Rússia, cujo único objectivo é, através de um sistema de monopólios, providenciar a prosperidade a uma pirâmide mafiosa de novos-ricos e funcionários estatais, no topo da qual está o senhor Putin, cuja riqueza não declarada perfaz cerca de 40 biliões de dólares.
Perante este sistema mafioso, os trabalhadores que entram em greve podem esperar apenas uma brutal repressão. Uma vez que muitos dos actuais patrões são ex-oficiais do KGB, o significado da palavra “negociação” é-lhes desconhecido. Quase todas as greves dos últimos meses foram, segundo a secção russa da AIT, declaradas ilegais e alguns dirigentes sindicais foram mesmo atacados pela polícia e pelas máfias.
No dia 20 de Novembro, iniciou-se uma greve na fábrica Ford de São Petersburgo, abrangendo 1700 dos 2200 trabalhadores desta unidade, sob a reivindicação de aumentos de 30-40% (nada mais do que uma mera compensação face à elevada inflação). A fábrica foi ocupada por forças de polícia especiais chamadas “OMON”. Militantes da KRAS iniciaram uma campanha de propaganda anarquista e contra os sindicatos oficiais, apelando aos trabalhadores para que deixem de obedecer aos líderes, substituindo-os por assembleias-gerais onde se tomem todas as decisões. Isto despertou a ira destes líderes sindicais. Mas apesar de conhecerem a ineficácia dos sindicatos, os trabalhadores hesitaram em iniciar outras formas de luta mais eficazes, como a sabotagem, por temerem a repressão legal e policial.
Também pela mesma altura, em São Petersburgo, decorria uma greve dos trabalhadores portuários – iniciada a 13 de Novembro –, que paralisou o porto desta cidade e foi declarada pelos tribunais como sendo ilegal. Também aqui os companheiros da KRAS tentaram chegar directamente aos trabalhadores, ultrapassando os líderes dos sindicatos, que segundos eles, “dão listas dos seus membros aos patrões, terminam as greves antes de começarem as negociações e após veredictos dos tribunais, ensinando os trabalhadores a obedecer à lei”.

Residentes de Moscovo em luta contra condomínios de luxo
Membros e simpatizantes da KRAS têm participado activamente na luta dos habitantes de Moscovo contra a construção descontrolada de condomínios de luxo destinados às elites da sociedade russa. Os residentes estão descontentes com o facto de a construção destes condomínios acarretar frequentemente a destruição de jardins e outros espaços públicos, e de muitas vezes representar um perigo para as fundações das suas casas.
Os protestos são frequentemente acompanhados de bloqueios das ruas ou dos estaleiros de construção. A repressão por parte das autoridades não se tem feito esperar, a polícia tem recorrido a bastonadas e a disparos para o ar para afastar as pessoas. Em alguns casos foram usados membros das máfias para intimidar os manifestantes.
Alguns anarquistas foram detidos durante os protestos. A 8 de Outubro, no decurso de um protesto na Rua Chertanovskaya em Moscovo, a polícia deteve 19 pessoas que bloqueavam a rua, entre as quais 6 membros e simpatizantes da KRAS. Algumas pessoas foram brutalmente espancadas durante a detenção.

Repressão contra estudantes anarquistas de Petrozhavodsk
No início do novo semestre académico, estudantes libertários iniciaram uma campanha contra a organização estudantil oficial na Universidade de Petrozhadovsk (uma cidade no Noroeste da Federação Russa). Esta organização é um pseudo-sindicato que, longe de defender os interesses dos estudantes, está integrada na Nashi – uma organização de juventude pró-Putin financiada pelo Kremlin e conhecida por atacar fisicamente as organizações juvenis de oposição. Os anarquistas organizaram uma campanha massiva contra a Nashi, com autocolantes e panfletos, encorajarando os estudantes a boicotar a organização estudantil oficial e a participar na fundação de um “Sindicato Livre e Alternativo de Estudantes” (ASSP). Os objectivos imediatos do ASSP são a luta contra a privatização do ensino superior, contra os exames nacionais (em que a corrupção predomina) e contra a revogação das leis de isenção do serviço militar.
O boicote à organização estudantil oficial foi um sucesso, tendo as inscrições no mesmo decrescido em 70%.
A 8 de Outubro, os estudantes anti-Putin organizaram uma acção contra a celebração do aniversário de Putin, promovida pela organização estudantil oficial. Apareceram na “celebração”, empunhando cartazes e gritando slogans que ridicularizavam a figura do presidente russo e expunham o carácter ditatorial do seu regime, e acabaram por ser atacados pelos seguranças da universidade. Todos os participantes na acção conseguiram escapar, apesar de a polícia os ter procurado pelas ruas durante toda a noite.
Esta acção ganhou uma grande atenção pública e alertou o FSB (ex-KGB), que conseguiu isolar alguns estudantes e acusá-los de participação na acção. Um estudante foi raptado da sua faculdade, levado a tribunal e, sem direito a advogado, multado em 1000 rublos (30 euros – o salário, por exemplo, de um médico ou professor na Rússia é de 150 euros) por participação numa manifestação ilegal. Outros foram convidados pela polícia para “conversas informais”. Um jornalista que pretendia fazer uma reportagem sobre o Sindicato Livre e Alternativo de Estudantes foi informado de que tal tópico era “indesejável”.
A 24 de Outubro, um outro participante da acção foi levado a tribunal, acusado de participação em piquete ilegal, tendo sido condenando a pagar uma multa de 1000 rublos. A Nashi também formou um esquadrão para, com a cooperação da polícia, destruir os anúncios de uma reunião da ASSP contra a comercialização da educação.
De acordo com os companheiros russos, não há dúvida de que a repressão contra os dissidentes dentro da universidade vai continuar, da mesma forma que continuará a luta contra a comercialização da educação e contra os lacaios do sistema universitário.