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domingo, 8 de maio de 2016

1º de Maio: Fotos + Texto 'Estudantes na Luta!'



O 1º de Maio Combativo partiu da Praça do Rossio, passando pelo Pingo Doce denunciando a exploração praticada pelo grupo Jerónimo Martins, pelo McDonalds, e terminando em assembleia no ponto de partida.

1º de Maio Combativo: Estudantes na luta!
Qualquer que seja o partido ou coligação no poder, a ou o presidente, o ensino atual continuará a resumir-se à produção de mão-de-obra para um sistema económico e social que a cada dia acelera o seu processo de autodestruição.
Estarmos dependentes de uma organização hierárquica que servirá sempre os interesses da classe dominante não é aceitável. Muitos são os engenhos que nos bloqueiam, atrasam e limitam o desenvolvimento das nossas capacidades, desde a mercantilização da educação, a participação estudantil burocratizada, os exames nacionais, ao próprio programa imposto do Ministério da Educação.
As escolas de pedagogia alternativa, não necessariamente libertária, provam que outro tipo de método é possível, porém estas não conseguem remover um factor que enquanto vivermos em capitalismo iremos sempre sentir: o mercado de trabalho. Um mercado de trabalho onde reina a exploração, a competição e a precariedade.
Convencemo-nos assim que a luta por uma educação verdadeiramente livre tem de estar aliada à luta pela emancipação da classe trabalhadora e à abolição do Estado.
Juntos e juntas dizemos não à lógica do Estado e do mercado.
Juntos e juntas podemos criar uma alternativa, anticapitalista e antiautoritária.

Coletivo Estudantil Libertário de Lisboa, CEL_Lisboa

terça-feira, 26 de abril de 2016

1º de Maio Combativo 2016, Lisboa


1º de Maio Combativo 2016, Lisboa: 15:30, Praça D. Pedro IV

Primeiro de Maio: Dia Internacional dos Trabalhadores

  Este é o dia em que se comemoram as lutas de todos os trabalhadores de todo o mundo. No entanto, que temos nós para comemorar? O prevalecente desemprego? A exploração salarial? A facilidade dos despedimentos? O trabalho precário? Uma esquerda parlamentar que se preocupa sobretudo com a obtenção de mais votos?

  As confederações sindicais, organizadas segundo um sindicalismo burocrático e reformista, revelam ser incapazes de conduzir com sucesso a luta dos trabalhadores contra a classe dominante que lucra com a nossa miséria. Há muito que abandonaram este objectivo e apoiam a narrativa de que a exploração das nossas vidas para enriquecer os bolsos de uma minoria está cá para ficar.

  São necessárias novamente as formas de luta que no passado conquistaram as 8 horas de trabalho, como a acção directa, o boicote, a greve, e a sabotagem. É necessário o sindicalismo revolucionário, organizado pelos trabalhadores de forma assembleária, que não se rende à vontade dos patrões, e que não pára até atingir o seu objectivo final: a emancipação dos trabalhadores. Temos de tomar o controlo dos nossos locais de trabalho, dos nossos bairros, das nossas ruas, das nossas vidas!

  Contra a "festa" da miséria! Unidos e auto-organizados nós damos-lhes a crise!

Rumo às portas que Abril abriu - CEL_Lisboa



Fotografias do Bloco Libertário + Jacobichas de 25 de Abril de 2016


  Ao contrário do que podemos ouvir por algumas ruas, não precisamos de um novo 25 de Abril. Sendo que este correspondeu à passagem de uma ditadura para uma democracia representativa que a cada instância se demonstra ineficaz para garantir a liberdade dos portugueses, seria impensável apoiarmos tal slogan, ou ainda o “25 de Abril sempre”; para sempre neste impasse não desejamos ficar.
  Daqui escrevem alguns daqueles e daquelas que já nasceram com muito do que aquele golpe podia dar: liberdade de expressão, privilegiada se monopolizarmos os média; de associação, mesmo tendo nós de subjugar-nos ao monopólio estatal; um estado de bem-estar social que nos capacitou para escrevermos este texto e que nos manteve saudáveis o suficiente para sermos servos da classe dominante, mas que começa a travar com as emboscadas neoliberais, etc.
  Como já deveríamos todos e todas saber, não só de sistemas políticos vive o ser humano. Não vale a pena falarmos de cumprir a Constituição quando o capitalismo lhe coloca proibições estruturais aos seus valores, ou talvez até por em certos pontos estar desatualizada à experiência que já desenvolvemos. Significa isto conformar-mo-nos ao reformista que se multiplica com os seus “A democracia é o melhor entre os piores sistemas”, “Mal menor”, “No meio está a virtude”? Claro que não! Celebram esta data com o mesmo pensamento que a fez chegar tão tarde, “é melhor assim do que como era antes”. O fado que nos cantam sobre esta ser a única opção, não está só caducado, é um fado medroso. É um fado do medo à ditadura política quando prevalece a ditadura dos mercados, que em tudo limita a vida política! É um fado ao profissionalismo que nos dispersa, que nos afasta das nossas comunidades e dos nossos problemas.
  “Se os jovens quiserem mudar qualquer coisa, os velhos soltarão um grito de alarme contra os inovadores. Aquele selvagem preferiria deixar-se matar a transgredir o costume do seu país, porque desde a infância lhe disseram que a menor infracção aos costumes estabelecidos lhe traria desgraça, causaria a ruína de toda a tribo. E ainda hoje, quantos políticos, economistas, e pretensos revolucionários agem sob a mesma impressão, agarrando-se a um passado que se vai embora! Quantos não têm outra preocupação senão procurar precedentes! Quantos fogosos inovadores não passam de simples copistas das revoluções anteriores!”
  - Piotr Kropotkin em "A Lei e a Autoridade"
  Se as portas se abriram, não fiquemos por aqui. Organizemo-nos para o combate da opressão que ainda prevalece; tirando as correntes que nos prendem, nada temos a perder.
  Colectivo Estudantil Libertário de Lisboa

terça-feira, 8 de março de 2016

(8 de Março) A todas as irmãs anarco-sindicalistas



Este 8 de Março saudamos todas as mulheres do movimento anarco-sindicalista.

O nosso é um movimento que aspira a criar uma sociedade igualitária e libertária. O sexismo é uma das formas de discriminação e de hierarquia que é necessário erradicar e não há melhor lugar para começarmos do que onde quer que estejamos. Em muitos movimentos sociais podemos experimentar formas de liderança de facto que favorecem os machos e que, de muitas formas, fazem com que as mulheres não sejam igualmente valorizadas nas organizações. Não temos apenas que questionar a necessidade de líderes de facto, mas também de mudar as nossas noções do que devemos valorizar neste tipo de dinâmicas.
Nunca deixemos de tratar estes temas com seriedade e neutralizemos os que querem fomentar formas de dominação masculina.

A nossa libertação não é um simples assunto de luta de classes, mas sim de uma completa transformação social na qual nos tratemos como iguais e em que sejam derrubados os privilégios sob todas as formas. E, para nós, este estado de respeito e de conduta igualitária deve ter lugar aqui e agora.

Contra todas as formas de hierarquia – não só do estado e do capitalismo.


Secretariado da Associação Internacional de Trabalhadores
7/3/2016

Agradecimento pela tradução: 
https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2016/03/08/8-de-marco-a-todas-as-irmas-anarco-sindicalistas/

sábado, 5 de março de 2016

95 anos da revolta acrata de Kronstadt


 De 1 a 18 de Março de 1921 marinheiros rebeldes levaram a cabo uma insurreição contra a ditadura bolchevique, naquilo que ficou conhecido como "a revolta de Kronstadt".
Muitos revoltos foram mortos na resistência contra uma força do exército vermelho liderada por Trotski enviada para esmagar a revolta, mas as suas bandeiras pirata continuam por aí. Os que sobreviveram, foram presos nas masmorras russas e nos campos de concentração finlandesas.

" A Makhnovshchina não é Anarquismo. O exército makhnovista não é um exército anarquista, não é formado por anarquistas. O ideal anarquista de felicidade e igualdade para todos não pode ser alcançado através dos esforços de um exército de qualquer espécie, mesmo que tenha sido constituído exclusivamente por anarquistas. O exército revolucionário, no melhor dos casos, poderia ser usado para a destruição do antigo regime; mas para o trabalho construtivo, a construção e a criação, qualquer exército que, logicamente baseado na força e no comando, seria completamente impotente e até mesmo prejudicial. Para que a sociedade anarquista seja possível, é necessário que os próprios trabalhadores, em fábricas e empresas, os camponeses nas aldeias, começam a construir a sociedade anti-autoritária, sem esperar por decretos-leis.
Nem os anarquistas armados, nem os heróis isolados, nem os grupos ou a Confederação anarquista irão criar uma vida livre para os trabalhadores e camponeses. Apenas eles próprios, através de esforços conscientes, irão construir o seu bem-estar, sem Estado e patrão."

"O Caminho para a Liberdade" (orgão da Makhnovshchina)

Carta território
Grupo de anarquistas
ucranianos em 1919

Liberdade ou morte
Marineiros de Kronstadt

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

PEDAGOGIA LIBERTÁRIA, EDUCAÇÃO POPULAR E ANARQUISMO*

Ao abordar  o tema PEDAGOGIA (ou PEDAGOGIAS) LIBERTÁRIA não podemos  deixar de o ligar à sua génese ANARQUISTA e à figura de Ferrer Guardia e à sua ligação ao movimento anarco-sindicalista do  início do século 20.  Mais do que qualquer outra, a ideia de uma escola moderna, e de  uma educação baseada no racionalismo e na desmontagem de todas as superstições religiosas sociais e políticas, a iniciativa de Ferrer  Guardia ia a par do desenvolvimento de um proletariado combativo e organizado contra a exploração capitalista e a opressão do Estado – e tinha como alvo a educação integral das crianças filhas do proletariado, fora das mordaças das igrejas e dos poderes do Estado e do Capital. E foi por isso, no seguimento dos grandes levantamentos operários e populares, sobretudo na Catalunha, que Ferrer Guardia foi condenado à morte e fuzilado, aliás, no mesmo ano (1906) em que é criada a anarco-sindicalista CNT – Confederación Nacional del  Trabajo. À monarquia  espanhola e aos privilegiados latifundiários e senhores da indústria, não convinha uma escola que ensinasse aos proletários e seus filhos, que não é no “Céu”, depois de mortos, que há que alcançar qualquer “paraíso” mas sim aqui na Terra, onde as desigualdades, as opressões , as injustiças existem…-e que há que lhes pôr fim.

Com efeito, nesse período, não apenas em Espanha mas em muitos outros países –e em Portugal também – o desenvolvimento do movimento anarquista e das organizações operárias, como os sindicatos revolucionários (UON primeiro e CGT mais tarde), associações populares, cooperativas, ia a par da criação de escolas operárias nesses organismos de base, de círculos de estudos sociais, de grupos de alfabetização, dos quais, os principais centros industriais  como o Porto, Lisboa, Setúbal , foram férteis. Nesse mesmo período, em Inglaterra foi criada a “Pleb´s League”, a Liga dos Plebeus, com o objectivo expresso de cultivar e instruir o proletariado inglês daquele tempo, a braços com a exploração infame a que a “democrática” burguesia britânica o submetia, com jornadas de trabalho de sol a sol, com trabalho infantil, com aviltantes e terríveis condições de trabalho…

A par do desenvolvimento das lutas sociais foram-se sempre desenvolvendo entre os meios laborais experiências de (auto-)educação popular, desde as experiências da escola de Goulai-Poulai, na Ucrânia, animada por Tolstoi em meados do século 19, à Alemanha dos anos 20 com as Comunas Infantis em Berlim e Hamburgo, ligadas ao desenvolvimento da FAU-D (Freie Arbeiter  Union – Deutschland , secção alemã da AIT ) como de resto, na mesma época, em Inglaterra, na Suiça, na Itália, na França, na Áustria e na Holanda, e nada disso está separado de movimentos operários – que tentam contrabalançar o crescendo nacionalista, fascista e nazi.

Seguir-se-ão as experiências  de redes de educação popular , durante a ocupação nazi da França, animadas pelo autodidata Freinet, e mais tarde, a alfabetização e educação popular nas favelas brasileiras, impulsionadas através das ideias da Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, às escolas dos “assentos” dos Sem Terra, nas ocupações de terras do Brasil e nas ocupações no México do ZPLN e dos Magonistas.
Algumas destas experiências decerto que escapam por vezes à classificação de LIBERTÁRIAS  no sentido ideológico do termo, mas abrem brechas na chamada “educação institucional”- sempre tendente a formatar crianças e adultos nos “valores” dominantes ( a competição, o afastamento da lutas sociais, o egoísmo social, etc.).

Algo profundamente ligado ao conceito de EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA é o AUTO-DIDATISMO organizado,  e as várias experiências surgidas na Suécia  (O. Olssen) e na Alemanha após a II Guerra Mundial e durante os anos 60 e 80: os Círculos de Estudos, organizados pelas próprias pessoas interessadas num dado tema e que tanto serviriam para apreender  em pequeno grupo uma qualquer técnica como para conhecer uma qualquer obra literária. Um seu desenvolvimento na  Berlim “alternativa” dos anos 80  foram também as “Bolsas de Aprendizagem” (Lernen Boerse),  orientadas segundo uma “velha” máxima  de B.Brecht, que dizia que “se o que não sabe é um ignorante, o que sabe e não passa aos demais aquilo que sabe é um criminoso”…

Muitos outros exemplos se poderão dar ainda de movimentos activos de educação e pedagogia libertária e educação popular no mundo inteiro. Também hoje, aqui e agora , frente à “crise” que banqueiros e governantes impõem que seja a maior parte da população pauperizada a pagar, frente ao aumento do ”intox” oficial (consome, consome, “empreendedorismo”,  lixa-o-parceiro-do-lado-para-
teres suce$$o, etc, etc…) nos tentam a todas e todos fazer aceitar as soluções vindas do alto da burra ou do alto do Estado.  E enquanto nos preocupamos com que nós e os nossos filhos possamos ter o último modelo de “té-lé-lé”, ELE$, os de cima e os de sempre, vão-nos roubando o tempo e a vida! É tempo de os recuperarmos! É tempo de ler mais e ver menos TV!  
 
É tempo de criarmos entre nós CIRCULOS DE ESTUDOS LIBERTÁRIOS, GRUPOS DE AR LIVRE E AVENTURA COM OS MAIS NOVOS – a par de todas as iniciativas populares e laborais com que possamos “meter o pauzinho nas engrenagens que nos apertam”…

Por nós, tentamos dar alguma ajuda nesse sentido.
 
*Texto de Zé P. (militante anarco-sindicalista)
Dez.2015

Círculo de Estudos Sociais Libertários – c/ Sindicato de Ofícios Vários da A.I.T.-SP, Porto
Contactos: <sovaitporto@gmail.com>       967694816

Grupos de Ar livre e Aventura (eco-escotismo livre) da Terra Viva!

Biblioteca/infoteca Social e Ecológica- c/TERRA VIVA! Associação de Ecologia Social
Contactos:  <terraviva@aeiou.pt>        223324001  961449268                                                                 n/blogue :   terravivaporto.blogspot.com
 
 

sábado, 31 de outubro de 2015

Comunicado da CNT da Catalunha sobre o novo ataque ao movimento libertário



Esta manhã tivemos a notícia lamentável de que o Estado, por meio da audiência Nacional e dos Mossos d’Esquadra, voltou a perpetrar uma série de buscas a locais e apartamentos, bem como à detenção de activistas libertários em Barcelona e Manresa, um dos quais – pelo menos, de que temos provas até agora – é filiado nesta organização.

Uma actuação que não podemos qualificar de outra forma senão de repressão ao movimento libertário, dando continuidade a uma estratégia jurídica e policial que já resultou em várias prisões de anarquistas nos últimos meses. Estamos a falar da operação Pandora e da operação Piñata.
Do Secretariado Permanente do Comité Regional da Catalunha e Baleares da CNT-AIT, condenamos a actuação do aparelho repressivo do Estado e solidarizamo-nos com todos os presos, bem como com os seus familiares e amigos. Apelamos à participação de toda a população nas acções de apoio que venham a acontecer e a continuar a reforçar a luta social, através da solidariedade, da ajuda mútua e da auto-organização, porque essa é a melhor arma contra os inimigos do povo organizado.

Secretariado Permanente
Comité Regional da CNT Catalunya i Balears


Tradução do Portal Anarquista: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2015/10/28/catalunha-cnt-solidaria-com-os-9-anarquistas-presos-esta-manha-em-barcelona-e-manresa/

domingo, 11 de outubro de 2015

Porque é que os anarquistas não votam*


Em tempo de eleições, mostram-se inevitavelmente dois tipos de pessoas com pontos de vista opostos: os que se abstêm e os que votam. Tanto uns como os outros têm argumentos para as suas posições. Aquele que não vota afirma que o voto é inútil e incapaz de causar mudança real. O que vota afirma que votar é um dever de todos os cidadãos e que é devido à abstenção que não existe mudança. Dentro do grupo dos que não votam, estão os anarquistas.

Mas porque é que os anarquistas não votam, afinal? "Certamente será porque o único desejo deles é causar o caos e a desordem. Eles não têm posições políticas para além disso!", dirá alguém. "Não votam, porque são egoístas e querem uma sociedade onde é cada um por si", dirá outro. Ambas as hipóteses estão muito longe da verdade.

Os anarquistas não votam, porque desejam uma sociedade que, através dos mecanismos democráticos actualmente existentes, é inalcançável. Pura e simplesmente, não existe qualquer partido que possa, através do poder estatal, construir uma sociedade sem estado nem capital. Isto confirma-se, porque, primeiro que tudo, dentro de uma democracia capitalista é impossível construir-se uma sociedade sem capital, sem que haja uma revolução, na qual os trabalhadores tomem controlo dos locais de trabalho e dos bairros. Qualquer governo que tentasse construir uma sociedade socialista (com este termo entende-se uma sociedade sem classes) dentro de uma democracia burguesa enfrentaria imensos obstáculos, e, caso conseguisse ultrapassá-los, teria depois de entregar o poder ao povo e auto-extinguir-se. No entanto, o que a história nos mostra é que os governos se recusam sempre a fazer isso, preferindo manter-se na sua posição de autoridade, e utilizá-la para benefício próprio.

Mas agora haverá alguém a dizer: "Eu bem sabia! Estes anarquistas são todos uns sonhadores utópicos! Todas as suas propostas são de coisas impossíveis ou inalcançáveis." Isto, novamente, é falso. A proposta de uma sociedade anarquista, sem classes e organizada pelo povo em conselhos e assembleias, é perfeitamente realizável. Os trabalhadores têm a força necessária para mudar tudo, e construir uma sociedade justa, livre e boa, mas esta força depende da sua organização e união. A sociedade que queremos não pode ser alcançada pelo voto, mas pode ser alcançada pelo desejo e acção de uma classe trabalhadora unida e ciente da sua força comum.

"Isso é tudo muito bom, mas parece-me que estamos muito longe de uma revolução desse género. Tendo isso visto, enquanto a revolução não vem, não faria sentido os anarquistas votarem no partido cujas posições mais se aproximem às suas?", perguntará alguém. À primeira, a resposta a isto será: sim, faz sentido. No entanto, reflectindo mais acerca do assunto, verifica-se que a conclusão permanece sendo: o voto é inútil. Existem vários factores que fazem com que este seja o caso. O primeiro desses factores é o facto de as campanhas eleitorais dos grandes partidos serem financiadas pelos grandes empresários e banqueiros - aqueles a que chamamos capitalistas ou burgueses. Estes partidos são grandes devido a esse financiamento, que os torna conhecidos e serve para aumentar a sua reputação com a população do país, e apenas são financiados porque têm posições que agradam aos capitalistas.

Existe uma relação de simbiose entre a classe política e a classe capitalista. A maior parte dos políticos, de facto, vem de famílias capitalistas. O grande empresário financia o político e ajuda-o a ganhar as eleições, e o político ajuda o empresário passando as leis que ele quer, e recapitalizando a sua empresa com largas somas monetárias quando essa declara falência. O capitalista não irá financiar ninguém que não o prometer ajudar. Por esse motivo, os partidos que não interessam à burguesia quase nunca vencem eleições. Muitos são, em vez disso, desconhecidos à vasta maioria dos votantes, e as suas posições raramente são vistas. Outros, têm uma base sólida de votantes, mas nunca passa de um determinado número, pois os meios de comunicação, que pertencem aos capitalistas, passam propaganda contra esses partidos, difamando-os ou tentando criar medo nas mentes das pessoas. No caso de um partido que não interesse à burguesia ganhar as eleições, depressa surgirão os grandes empresários, prometendo a esses políticos grandes riquezas em troca da sua obediência. Foi isso o que sucedeu com o Syriza da Grécia, que, verdade seja dita, nem sequer era muito radical. Os mesmos políticos que queriam, supostamente, renegociar a dívida de modo a que o pagamento dessa não se baseasse na miséria do trabalhador grego, mal chegaram às mesas de negociações, mudaram "misteriosamente" as suas posições, e acabaram por aceitar TODAS as exigências da Troika. As suas alegações de que simplesmente não era possível a renegociação não passam de mentiras para cobrir a sua colaboração com aqueles contra quem prometeram lutar.

No nosso caso português, votar tanto no PS como no PSD/CDS não passa de uma perpetuação das mesmas políticas neo-liberais que nos governam - as políticas que já tanto nos tiraram, e que nos tencionam tirar ainda mais, para alimentar a ganância infindável do capital. Directamente antes das eleições vê-se sempre o mesmo: o actual governo age como se fosse afinal muito simpático, enquanto o partido da oposição age como se fosse o total oposto daquilo que o outro foi, e daquilo que esse mesmo já foi, antes de ter sido retirado do poder pelo outro. É um ciclo. Cada vez que um desses vence, o ciclo continua. "Mas então e os outros partidos?", exige alguém saber.

O BE é composto por uma camada da classe média que deseja uma espécie de social-democracia com ênfase especial em problemas sociais. Na realidade, se este partido fosse para o poder, faria exactamente o mesmo que o seu partido irmão grego, o Syriza, fez: ocupou o seu lugar no ciclo, e continuou as políticas dos grandes empresários e banqueiros.

O LIVRE, que promete um sistema democrático mais representativo, apenas faria continuar o ciclo, só que com primárias abertas. Já vimos o quão fácil é para o capitalista comprar alguém. Mesmo que o LIVRE tentasse implementar uma espécie de democracia directa, a existência dessa não seria permitida pelos capitalistas, que fariam tudo o que fosse necessário para impedir essa implementação. A coligação AGIR não passa de um grupo de políticos oportunistas que apenas desejam enriquecer-se a si mesmos.
O obscuro PNR ocuparia o seu lugar no ciclo, continuando as políticas dos burgueses, mas implementando políticas sociais da direita reaccionária.

Quanto à CDU, existem duas hipóteses: ou o partido não passará da actual ideologia social-democrata que propagandeia, ou agirá mesmo como um partido marxista-leninista. No primeiro caso, a CDU apenas ocuparia o seu lugar no ciclo, como fez o Syriza, só que com vocabulário e desculpas diferentes. No segundo caso, que é altamente improvável, a classe capitalista faria tudo para o impedir de governar, incluindo provocar uma guerra civil, ou provocar uma invasão por uma certa potência estrangeira bem conhecida por invadir países com governos marxistas-leninistas. Mesmo que o partido e os seus apoiantes conseguissem vencer essas duas ameaças (com o custo de muitas vidas e da devastação do país), o que acabaria por suceder seria o que sucedeu a todos os países que já estiveram nesta posição (a lista de exemplos é longa): a classe política iria solidificar o seu controlo, criar um regime ditatorial onde a riqueza flua em direcção dos altos oficiais do partido, acabar com todos os esforços de criar uma sociedade verdadeiramente comunista e, no final, deixar o capitalismo lentamente entrar. Assim, vemos que, independentemente de quem votarmos, o capital é quem vencerá.

"Então mas isso não quer dizer que estamos condenados? Não quer dizer que nunca irá haver mudança a sério? Então afinal o que os anarquistas dizem é que nos devemos resignar e submeter-nos voluntariamente e sem resistência à miséria que nos é imposta?" Não. Nunca estaremos condenados enquanto haja ar nos nossos pulmões e esperança nos nossos corações! "Mas então como é que fazemos?".

Organizamo-nos! Aprendamos que vivemos num sistema onde a classe capitalista vive da nossa miséria: é essa a natureza do capitalismo. Aprendamos que sempre será assim enquanto existam classes - mesmo num sistema social-democrata existe exploração, e esse estado social apenas existirá temporariamente para acalmar os ânimos dos trabalhadores, e que após essa tarefa ser cumprida, irá haver sempre uma transição para o neo-liberalismo: o sistema ideal da classe capitalista. E aprendamos sobretudo,que a nossa força está na união e na solidariedade. Se queremos viver bem, e dar um bom futuro aos nossos filhos e netos, temos de nos organizar agora: encontrando outras pessoas descontentes, aprendendo, ensinando, formando grupos, assembleias de bairro, sindicatos, associações de classe, colectivos de estudantes e lutando contra os avanços e investidas do capital contra nós, preparando as condições para a revolução onde iremos mudar a sociedade pela base.

Não votamos porque não temos fé nos políticos. Temos fé em nós mesmos, e na nossa força.

João Morais
*Artigo de opinião de um membro do Núcleo de Lisboa da AIT-SP

sábado, 26 de setembro de 2015

Mostra de Edições Subversivas em Lisboa

Já começou a Mostra de Edições Subversivas em Lisboa.
O Núcleo de Lisboa da AIT-SP está presente com uma banca. Apareçam!

Grupo Excursionista e Recreativo Os Amigos do Minho, no número 244 da Rua do Benformoso
(perto do metro do Martim Moniz e Intendente)

Mais informações e programa: http://www.mes2015.tk/