O preso anarquista Amadeu Casellas foi libertado no dia 9 de Março, depois de vinte e quatro anos de prisão. Após três greves de fome e uma campanha internacional pela sua libertação (ver Solidariedade com Amadeu Casellas em Lisboa), o director do estabelecimento prisional de Girona unificou os expedientes do antigo e do novo código penal e, uma vez feita a soma das penas, concluiu que Casellas cumpriu mais oito anos de pena do que o estipulado.
Congratulamo-nos com a libertação do companheiro Amadeu Casellas e fazemos nossas as palavras do comunicado do grupo de familiares, amigas e amigos de Amadeu Casellas que a seguir reproduzimos.
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Comunicado do grupo de familiares, amigas e amigos de Amadeu Casellas
[Tradução: Agência de Notícias Anarquistas - ANA]
Na segunda-feira, 9 de março, ao meio-dia, estava prevista a saída em liberdade de Amadeu Casellas da prisão de Girona. Um grupo de pessoas desta localidade e de Barcelona esperavam desde segunda-feira a sua saída, realizando um ato de presença em frente à prisão tanto na segunda quanto na terça-feira, dia em que ele finalmente saiu. Amadeu, que estava carregado com 3 grandes bolsas cheias de objetos pessoais e uma trajetória de luta de 24 anos na prisão, foi recebido entre gritos de alegria, liberdade e abraços, enquanto de um edifício da prisão vários presos em terceiro grau olhavam curiosos e ansiosos este esperado e emocionado reencontro com a liberdade.
Nós, como o grupo de familiares, amigas e amigos de Amadeu, queremos compartilhar este instante de emoção e alegria com todas as pessoas que em qualquer ou em todos os momentos acompanharam esta luta. Além disso, queremos fazer chegar a vocês não só o nosso agradecimento, mas também um profundo reconhecimento por manter este apoio, apesar das circunstâncias estranhas e adversas que rodearam esta luta tão esgotadora, complicada e longa.
Nós do grupo de apoio, apesar do que possa ter parecido, nunca colocamos a luta pela liberdade de Amadeu como o objetivo de uma luta específica, mas sim como parte do enfrentamento cotidiano e direto contra o sistema que persegue e prende aquele/as que com a sua atitude o enfrentam. É por isso que a nossa luta não está concluída com a libertação de Amadeu, por que pessoas como ele ainda permanecem na prisão, ou com a ameaça permanente de sofrerem represálias ou de serem presas. Sem nos aventurarmos a cruzar cordilheiras ou mares distantes, justo aqui ao lado temos a nossa companheira Tamara, o companheiro Alfonso, a companheira Núria, o/as companheiro/as do 4F, o/as do Forat de la Vergonya, o Pla Caufec, as pessoas imigrantes que se encontram presas no CIE ou com a ameaça constante de detenção e posterior expulsão.
Às pessoas presas que lutam pela sua liberdade dentro ou fora deste país, a aquelas que não fecharam seus olhos, nem seus ouvidos frente aos abusos e às injustiças; aos estudantes que tem como causa a luta pelo direito a um ensino livre e popular e contra a privatização e implantação do Plano Bolonha nas universidades, a aqueles que se negam a pagar as penas-multa; a todas as pessoas, quase todas mulheres, que lutam sem concessões contra esse patriarcado que nos atravessa; a aqueles que resistem ao consenso do progresso, aos seus trens e linhas de alta devastação, suas indústrias venenosas, seus planos de especulação e desenvolvimento urbano e suas culturas de morte; a todos os trabalhadores e trabalhadoras que têm mantido uma luta com muita coerência; aos desempregados e desempregadas que têm reivindicado uma vida com dignidade ao invés de trabalhos precários, a todas as pessoas que lutam contra este estado-capital das coisas e mercadorias; a aquele/as que expressam sua voz contra as instituições totais a partir da chamada loucura; a aquele/as que rechaçam e subvertem a norma imposta; às comunidades que reclamam e lutam pela sua identidade e pelo direito ao seu território vital, e muito especialmente às comunidades mapuches e zapatistas; a aquele/as que dos corredores de morte alçam sua voz para denunciar e lutar contra esse sistema e a todas estas que, com a sua luta individual ou coletiva, chamam a atenção ao nosso próprio desconhecimento... A todas essas pessoas, e a todas que esquecemos, queremos fazer chegar nosso profundo agradecimento e cumplicidade para além de todas as palavras.
Nós que temos participado do grupo de familiares, amigas e amigos de Amadeu, estamos física e/ou emocionalmente comprometido/as com todas estas lutas e fazemos parte de diferentes coletivos nos quais desde muito tempo temos mantido uma tensão constante contra este sistema, sua lógica e seu estado de coisas.
No grupo de apoio a Amadeu, tentamos sempre que possível conectar diferentes lutas, ou propiciar outros espaços para que estas pudessem se desenvolver. Entendemos a prisão, a pobreza, a precariedade, o controle social, a exploração, a discriminação, a criminalização, as guerras, os abusos, as torturas, a coisificação das pessoas, a mercantilização e a morte cotidiana da vida, etc..., como manifestações deste capitalismo patriarcal que nos asfixia e enfraquece e seguiremos conectando lutas e abrindo espaços para encontros cúmplices.
Sabemos que somos pequeninas lágrimas nesta sociedade espetacular de olhos secos e olhares que se perdem, fascinados entre luzes de vitrines de falsas realidades. Neste momento, não temos aspirações de grandes revoluções, mas sim de manter essa capacidade para seguir chorando de raiva e poder expressar-la, e assim corromper a fascinação por tantas mercadorias de falsas ilusões. Buscamos cumplicidades para a minúscula revolução cotidiana que dá sentido aos nossos dias, para a partir daí, autodeterminar nossas próprias vidas.
Por tudo isso, nós do grupo de familiares, amigas e amigos de Amadeu, nem nos despedimos, nem nos dissolvemos, mas seguimos nesta luta...
Um forte abraço repleto de profunda cumplicidade e agradecimento fraternal a todas as pessoas que estão aí... resistindo.
Tradução » Nimbus Negra
agência de notícias anarquistas-ana