“O caminho anarcosindicalista é relacionar constantemente a luta imediata com o nosso objectivo de mais longo prazo de derrotar o capital e estabelecer o comunismo libertário”
“O capitalismo usa o fascismo como meio para dividir os trabalhadores”
Rolf Petter Larsen, secretário-geral da AIT
Rofl Petter Larsen é o secretário–geral da Associação Internacional de Trabalhadores (AIT) desde 2009, que está sediada actualmente em Oslo, na Noruega. Entrevistámos Larsen a propósito da realização em Valência do próximo Congresso da AIT.
Pergunta: Quais são os objectivos próximos e a prazo da AIT?
Resposta: A Associação Internacional de Trabalhadores é uma organização internacional única. A Internacional é gerida pelos próprios trabalhadores através das suas secções. Desde o XXIV Congresso da AIT que teve lugar em Porto Alegre em Dezembro de 2009, a AIT organizou uma acção internacional coordenada e inúmeras acções urgentes de solidariedade. Os websites da AIT e das suas secções, páginas de facebook. Jornais, revistas e boletins externos mostram isto.
Estas acções do “dia a dia”, pela nossa forma de funcionar, estão vinculadas a objectivos a maior distância: as secções da AIT organizam-se democraticamente, de baixo para cima, em consonância com os nossos princípios federalistas e estruturas democráticas. Nenhuma secção da AIT colabora ou recebe subvenções do estado e/ou capitalistas.
Deste modo existe coerência entre os objectivos a curto e a mais largo prazo: as acções directas e a solidariedade devem ganhar para os trabalhadores/desempregados as “questões do dia a dia”, enfrentar o capitalismo e estabelecer a federação livre de associações livres de trabalhadores, o comunismo libertário.
P. – Quais são as perspectivas do XXV Congresso?
R. – Como se pode ver pela resposta anterior, as perspectivas para o próximo Congresso da AIT são boas. Desde o último Congresso em Porto Alegre, a coordenação dentro da AIT tem melhorado constantemente. A nossa capacidade para organizar acções internacionais e acções urgentes de apoio aos trabalhadores em luta é fundamental para nós enquanto organização.
A AIT é uma organização democrática e como tal é natural que haja desacordos nos congressos. Para se saber verdadeiramente se um Congresso foi um êxito é preciso ver o que se passa depois: as decisões tomadas no Congresso ajudaram a aumentar a capacidade da AIT e a organizar-se internacionalmente para os objectivos a curto e a mais largo prazo?
P.- Em que radica a importância da AIT?
R. – No movimento sindical há diferentes pontos de vista sobre o que significa a palavra “força”, mas outras organizações sindicais pretendem obter “a força” utilizando os marcos jurídicos com os subsídios e as estruturas de classe colaboracionistas. As justificações são diferentes, mas dizem sobretudo que se não fizessem deste modo não teriam uma força real enquanto como sindicato. Funcionam assim de facto, afirmando que não poderiam funcionar sem serem dependentes, por exemplo, das “eleições sindicais”, os comités de empresa, de subsídios, etc.
A importância da AIT radica no facto de que as acções directas, a propaganda e a solidariedade da AIT se baseiam nas nossas próprias forças, não na colaboração de classes, como por exemplo as eleições sindicais para os comités de empresa. A independência económica é assegurada pela quota dos membros, não pelos subsídios do estado. Federalismo significa que não construímos estruturas centralistas, nem fundos geridos por profissionais pagos.
O caminho da AIT é relacionar constantemente a luta imediata com o nosso objectivo de mais longo prazo de derrotar o capital e estabelecer o comunismo libertário. Acreditamos que um movimento forte dos trabalhadores independentes é a única maneira de assegurar que “a emancipação da classe operária só pode ser levada a cabo pelos próprios trabalhadores”.
Para mais somos internacionais. Esta é uma grande vantagem não só nos conflitos laborais, mas também como meio para trocar informação acerca da evolução desses conflitos. Alguns países copiam sistemas de outros, por exemplo no que diz respeito a sistemas de negociação ou a sistemas para enfraquecer e/ou esmagar os sindicatos e nós temos a possibilidade de trocar e partilhar experiências de forma a agirmos contra eles.
Pelo que, com referência à primeira pergunta e a esta resposta: a AIT é uma organização internacional única que é dirigida pelos próprios trabalhadores através das suas secções, nem a AIT nem as secções estão integradas no sistema capitalista, organizam acções internacionais, coordenadas, e inúmeras acções urgentes de solidariedade, existindo u ma grande coerência entre os objectivos a curto e a longo prazo.
P- Como podem ser melhoradas as comunicações internacionais?
R.- A AIT melhorou desde o Congresso de Porto Alegre a coordenação como um meio de acção e de troca de ideias. Também conseguimos novos contactos e temos um grupo de trabalho de candidatos para desenvolver e manter contactos com outras organizações que têm mostrado interesse em estar filiadas na AIT e um grupo de trabalho internacional que está aberto a todas as secções com a finalidade de trocar informação sobre contactos externos.
Para nós a organização da luta a nível internacional é uma forma de comunicação. Quando os trabalhadores em todo o mundo fazem acções de apoio a outros trabalhadores que estão em luta comunica-se uma sensação de solidez que só pode fortalecer e aprofundar o nosso movimento e reforçar a nossa luta.
P. – A AIT deveria intervir mais em conflitos sociais e não apenas em conflitos laborais?
R. – Muitas das secções da AIT participam em distintos tipos de conflitos sociais, especialmente se estes fazem avançar a luta de classes. Podemos ver secções da AIT a participarem em áreas tais como as organizações de vizinhos, organizando transportes gratuitos, direitos dos imigrantes, etc.. Na AIT há uma larga tradição de trabalho nos conflitos sociais.
Militarismo e crise económico vão a par e passo, e como tal a AIT está contra todas as guerras capitalistas e contra o militarismo. Nos últimos anos vimos guerras no Afeganistão e no Iraque e guerras na Costa do Marfim e na Líbia. Actualmente está a ser levada a cabo uma guerra civil cruel na Síria. Sucedem-se contínuos e sangrentos conflitos em muitos estados africanos que nem sequer merecem uma simples menção na maior parte dos meios de comunicação capitalista.
P.- Como deve a AIT reagir ante o recente reaparecimento do fascismo?
R.- A ideia de que devemos enfrentar e tentar vencer o fascismo é fundamental para o anarcosindicalismo. As nossas secções levam a cabo diferentes tipos de acções: educação contra o fascismo, protestos, organização para a autodefesa, criando alternativas entre a classe operária.
Reconhecemos que especialmente durante os períodos de crise económica, a elite capitalista dominante utiliza o fascismo como um meio de dividir os trabalhadores e esmagar os seus direitos e as suas organizações. A AIT está, portanto, fortemente comprometida a continuar com esta nossa longa tradição de luta contra o fascismo.
Nines R./Aran. R. A. - Toledo
Publicado no nº 405 de Novembro de 2013 do jornal “CNT”
Tradução do Colectivo Libertário de Évora