Éramos muitos desta
vez no Porto, muitos mesmo, contabilizou-se 400.000 nesta cidade, uma manif que
demonstrava a força de uma população que já não aguenta mais ficar à rasca,
sempre com medo do próximo corte e da próxima medida de austeridade. No meio desse
mar de gente formou-se um bloco libertário com malta da AIT/SP e de outros
coletivos do Porto, além de indivíduos ligados a esta forma de pensamento e
ação. Bandeira vermelha e preta anarco-sindicalista e uma acção teatral onde
companheiros disfarçados de "troika" serviam de alvo para centenas de
bolinhas de tinta, bolinhas estas que erravam os "alvos" e acabam,
"acidentalmente" a acertar os bancos que se encontravam atrás dos
mesmos, pura simbologia, ao mesmo tempo ousada, que serviu para mui tos que passavam
e aderiam à acção como forma de "colocar pra fora" os problemas de um
cotidiano aflito com a "crise". Ao final da manif, quando tudo
parecia encaminhado e as pessoas se dirigiam para as suas casas com gosto de
"quero mais", a polícia cerca o grupo ligado à acção teatral para
pedir-lhes suas identificações, dada a ilegalidade do pedido, as pessoas
obviamente se recusaram a identificar-se. A tensão aumenta em volta do cerco da
polícia, a população grita, pede para soltar o grupo, tentam entrar no cerco a
dizer: "Se eles estão presos então também quero estar", e de repente
duas prisões, arbitrárias e sem qualquer razão aparente, incluindo a de um
militante do SOV-Porto (AIT/SP). É a gota d'água para quem assistia a tudo
indignado. Pessoas invadem o cerco e aos gritos de "Fora daqui, fora
daqui" simplesmente expulsam a polícia dali, um acto de coragem e
indignação que mostra claramente que os nervos estão à flor da pele e que as
coisas começam a mudar.
Já na prisão os companheiros detidos se viram confrontados com os dois policiais a paisana que acompanhavam a manifestação e que rapidamente não os reconhecem como pessoas que lançaram qualquer bolinha de tinta em bancos, e era verdade, a polícia de intervenção só tinha prendido dois (eles diziam claramente que gostariam de ter pego mais pessoas) e eram os dois errados. Rapidamente os mesmos policiais comunicam ao Comando este facto, mas não havia jeito, o comando queria que alguém fosse arguido no processo e que também alguma pessoa fosse denunciada como possuidora do que havia sido apreendido (no caso um carrinho de compras com as bolinhas de tinta que não foram lançadas), e lá estava feito o filme, aqueles dois seriam os bodes expiatórios de tudo o que houve. E assim correu o processo, sem abuso de poder, sem muita hostilidade, os dois foram considerados arguidos e se recusaram a assinar o papel, depois foram levadas à identificação das digitais de mão inteira e fotografia, sendo liberados posteriormente. Tentou-se fazer uma manifestação em frente à Esquadra onde estavam os detidos, porém a polícia foi hábil e conseguiu enganar os manifestantes que o tempo inteiro estiveram na esquadra errada. Como os detidos foram impedidos de usar o telemóvel não houve volta a dar com relação a isso. Por agora tudo está bem, mas vamos aguardar o decorrer deste processo para sabermos que passos damos adiante.
Um
militante do SOV Porto (AIT-SP) detido na manifestação de 2 de Março