Realizou-se nos dias 13, 14 e 15 de Agosto a Conferência da Associação Internacional dos Trabalhadores sobre “Precariedade, Autogestão e Cooperativas”. A Conferência teve como anfitriã a secção espanhola CNT, realizando-se no IX Acampamento da CNT em La Vecilla, León. Reproduzimos, em seguida, um largo excerto do informe da delegação da secção britânica Solidarity Federation acerca dos trabalhos da conferência.
Participaram cerca de 100 pessoas no acampamento e 60 na conferência. Estiveram representadas 10 secções: a CNT-F (França), a FAU (Alemanha), a Priama Akcia (Eslováquia), a ZSP (Polónia), a Solidarity Federation (Grã-Bretanha), a AIT-Secção Portuguesa, a USI (Itália), a KRAS (Rússia), a NSF (Noruega) e, claro, a CNT-E (Espanha). Também compareceram organizações convidadas: a MASA da Croácia e dois delegados do jornal peruano “Humanidad” que, no entanto, só chegaram várias horas após o encerramento da conferência devido a problemas com os vistos.
Na primeira parte da conferência, foram dados informes acerca da situação em cada país. Demonstrou-se particularmente interessante a experiência da ZSP polaca, que em três anos aumentou a sua afiliação para 50 membros, estando envolvida num grande número de lutas.
No seu informe, a secção russa KRAS descreveu as terríveis condições vividas pelos imigrantes ilegais que trabalham na construção civil na Rússia. As suas vidas são constantemente postas em risco pelos ataques da polícia e dos nazis, e quando se tentam organizar para lutar enfrentam ainda o risco da deportação e da violência das máfias.
A segunda parte da conferência foi dedicada a conflitos específicos nos quais as secções têm estado envolvidas. A CNT-F de Pau descreveu o seu trabalho de organização através de ‘comités’, grupos criados fora do sindicato de forma a envolver outros trabalhadores militantes que possuíam uma profunda desconfiança face aos sindicatos, extendida, de início, à própria CNT-F. A sua acção mais inspiradora foi a ocupação de uma autoridade estatal do trabalho levada a cabo pelo comité de desempregados. Esta acção envolveu algumas mães de família, que recorreram à acção directa pela primeira vez nas suas vidas, e que se demonstraram as mais militantes – permanecendo até serem retiradas pela polícia. Alguns dos membros mais activos destes comités acabaram por se juntar à CNT-F à medida que as lutas particulares foram acalmando.
A ZSP também deu conta do seu trabalho com um trabalhador polaco emigrado que, após ter sido colocado por uma empresa de trabalho temporário num trabalho sem condições de segurança num estaleiro na Holanda, acabou por ficar com uma conta de hospital de 2.000 euros para pagar e teve de pagar do próprio bolso as despesas de viagem. Não teve direito a seguro nem a formação e não sabia sequer o nome do estaleiro onde esteve a trabalhar. Utilizando métodos argutos, a ZSP conseguiu localizar o estaleiro e organizou acções na Polónia e na Holanda juntamente com um grupo holandês (Grupo Anarquista de Amesterdão – AGA), conseguindo não só que o trabalhador recebesse o dinheiro devido como também a melhoria das condições para os futuros trabalhadores.
O informe da CNT-E sobre a luta na Ryanair destacou os problemas enfrentados pelos activistas sindicais. Neste caso, um militante da CNT foi despedido após se ter recusado a assinar um documento em que se dissociava do sindicato. Apesar de a CNT ter obtido do tribunal uma sentença a favor da readmissão do trabalhador, isto levou a um debate dentro do sindicato sobre legalismo, acção directa e como se organizar contra multinacionais poderosas, que também se reflectiu na discussão subsequente. Dois membros da FAU do cinema Babylon em Berlim também forneceram uma actualização acerca deste conflito, após a proibição do tribunal que pesava sobre as actividades sindicais da FAU ter sido revogada.
A última parte da conferência consisitiu numa discussão sobre autogestão e cooperativas, introduzida por uma apresentação da secção italiana USI. Descreveram a sua estratégia “mutualista”, de criar cooperativas de trabalhadores como forma concreta de construir laços de solidariedade e apoio mútuo, dando forma a uma alternativa ao capitalismo que o poderia “progressivamente substituir”. Esta ideia foi criticada por um texto do Sindicato da Educação da CNT de Granada, que sublinhou que “Acima de tudo, não pensamos que a multiplicação de cooperativas possa transformar progressivamente o sistema capitalista”. A discussão foi complicada pela tradução em três línguas, mas observou-se um cepticismo generalizado em relação a uma estratégia de autogestão no seio do capitalismo em oposição à luta de classes segundo linhas anarco-sindicalistas.
O “Humanidad” do Peru fez uma apresentação sobre a situação actual e a história do movimento dos trabalhadores neste país, assim como do seu jornal. A partir da sua apresentação e da leitura do seu jornal depreende-se que se inclinam mais para o mutualismo do que para o comunismo libertário; no entanto, possuem uma clara orientação favorável às lutas dos trabalhadores, interessando-se por lutas actuais, tais como as que ocorrem na indústria têxtil. Também estão a par de algumas das limitações do mutualismo, que deve ser compreendido no contexto de um Estado-providência limitado e da larga extensão da economia informal no Peru (onde o auto-emprego é uma realidade para muitos e as cooperativas constituem um meio prático de obter uma fonte de rendimento mais segura e serviços públicos, em oposição à estratégia revolucionária).
No geral, a conferência foi muito positiva, possibilitando uma grande inter-aprendizagem e contactos importantes entre as secções. Muitos delegados destacaram a importância da troca de experiências e ideias, afirmando que há necessidade de mais ideias concretas relativamente à partilha de experiência e que a prática das secções sairá enriquecida por esta partilha.
Tradução do inglês. Original completo em: http://brightonsolfed.wordpress.com/2010/08/24/report-back-from-iwa-conference-in-leon-spain/
Participaram cerca de 100 pessoas no acampamento e 60 na conferência. Estiveram representadas 10 secções: a CNT-F (França), a FAU (Alemanha), a Priama Akcia (Eslováquia), a ZSP (Polónia), a Solidarity Federation (Grã-Bretanha), a AIT-Secção Portuguesa, a USI (Itália), a KRAS (Rússia), a NSF (Noruega) e, claro, a CNT-E (Espanha). Também compareceram organizações convidadas: a MASA da Croácia e dois delegados do jornal peruano “Humanidad” que, no entanto, só chegaram várias horas após o encerramento da conferência devido a problemas com os vistos.
Na primeira parte da conferência, foram dados informes acerca da situação em cada país. Demonstrou-se particularmente interessante a experiência da ZSP polaca, que em três anos aumentou a sua afiliação para 50 membros, estando envolvida num grande número de lutas.
No seu informe, a secção russa KRAS descreveu as terríveis condições vividas pelos imigrantes ilegais que trabalham na construção civil na Rússia. As suas vidas são constantemente postas em risco pelos ataques da polícia e dos nazis, e quando se tentam organizar para lutar enfrentam ainda o risco da deportação e da violência das máfias.
A segunda parte da conferência foi dedicada a conflitos específicos nos quais as secções têm estado envolvidas. A CNT-F de Pau descreveu o seu trabalho de organização através de ‘comités’, grupos criados fora do sindicato de forma a envolver outros trabalhadores militantes que possuíam uma profunda desconfiança face aos sindicatos, extendida, de início, à própria CNT-F. A sua acção mais inspiradora foi a ocupação de uma autoridade estatal do trabalho levada a cabo pelo comité de desempregados. Esta acção envolveu algumas mães de família, que recorreram à acção directa pela primeira vez nas suas vidas, e que se demonstraram as mais militantes – permanecendo até serem retiradas pela polícia. Alguns dos membros mais activos destes comités acabaram por se juntar à CNT-F à medida que as lutas particulares foram acalmando.
A ZSP também deu conta do seu trabalho com um trabalhador polaco emigrado que, após ter sido colocado por uma empresa de trabalho temporário num trabalho sem condições de segurança num estaleiro na Holanda, acabou por ficar com uma conta de hospital de 2.000 euros para pagar e teve de pagar do próprio bolso as despesas de viagem. Não teve direito a seguro nem a formação e não sabia sequer o nome do estaleiro onde esteve a trabalhar. Utilizando métodos argutos, a ZSP conseguiu localizar o estaleiro e organizou acções na Polónia e na Holanda juntamente com um grupo holandês (Grupo Anarquista de Amesterdão – AGA), conseguindo não só que o trabalhador recebesse o dinheiro devido como também a melhoria das condições para os futuros trabalhadores.
O informe da CNT-E sobre a luta na Ryanair destacou os problemas enfrentados pelos activistas sindicais. Neste caso, um militante da CNT foi despedido após se ter recusado a assinar um documento em que se dissociava do sindicato. Apesar de a CNT ter obtido do tribunal uma sentença a favor da readmissão do trabalhador, isto levou a um debate dentro do sindicato sobre legalismo, acção directa e como se organizar contra multinacionais poderosas, que também se reflectiu na discussão subsequente. Dois membros da FAU do cinema Babylon em Berlim também forneceram uma actualização acerca deste conflito, após a proibição do tribunal que pesava sobre as actividades sindicais da FAU ter sido revogada.
A última parte da conferência consisitiu numa discussão sobre autogestão e cooperativas, introduzida por uma apresentação da secção italiana USI. Descreveram a sua estratégia “mutualista”, de criar cooperativas de trabalhadores como forma concreta de construir laços de solidariedade e apoio mútuo, dando forma a uma alternativa ao capitalismo que o poderia “progressivamente substituir”. Esta ideia foi criticada por um texto do Sindicato da Educação da CNT de Granada, que sublinhou que “Acima de tudo, não pensamos que a multiplicação de cooperativas possa transformar progressivamente o sistema capitalista”. A discussão foi complicada pela tradução em três línguas, mas observou-se um cepticismo generalizado em relação a uma estratégia de autogestão no seio do capitalismo em oposição à luta de classes segundo linhas anarco-sindicalistas.
O “Humanidad” do Peru fez uma apresentação sobre a situação actual e a história do movimento dos trabalhadores neste país, assim como do seu jornal. A partir da sua apresentação e da leitura do seu jornal depreende-se que se inclinam mais para o mutualismo do que para o comunismo libertário; no entanto, possuem uma clara orientação favorável às lutas dos trabalhadores, interessando-se por lutas actuais, tais como as que ocorrem na indústria têxtil. Também estão a par de algumas das limitações do mutualismo, que deve ser compreendido no contexto de um Estado-providência limitado e da larga extensão da economia informal no Peru (onde o auto-emprego é uma realidade para muitos e as cooperativas constituem um meio prático de obter uma fonte de rendimento mais segura e serviços públicos, em oposição à estratégia revolucionária).
No geral, a conferência foi muito positiva, possibilitando uma grande inter-aprendizagem e contactos importantes entre as secções. Muitos delegados destacaram a importância da troca de experiências e ideias, afirmando que há necessidade de mais ideias concretas relativamente à partilha de experiência e que a prática das secções sairá enriquecida por esta partilha.
Tradução do inglês. Original completo em: http://brightonsolfed.wordpress.com/2010/08/24/report-back-from-iwa-conference-in-leon-spain/
Outro artigo sobre a Conferência publicado no site da CNT Galiza: http://www.cntgaliza.org/?q=node/1026