sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Acerca da “caça às bruxas” anti-anarquista levada a cabo pela imprensa portuguesa




A maioria dos jornais da chamada “grande imprensa” desinforma, intoxica… Transforma-se em arauta do imobilismo, da acriticidade, do conformismo estupidificante, e é geradora de espíritos medrosos e estéreis, avessos à indignação e à revolta que tanta falta fazem neste país, como no Mundo inteiro!

Comunicado da AIT – Secção Portuguesa à opinião pública

Artigos difamatórios contra @s anarquistas vêm surgindo de vez em quando na grande imprensa portuguesa, como os que surgiram no passado dia 7 de Maio no “Correio da Manhã” e “Diário de Notícias”, sobretudo – embora também noutros jornais nos dias seguintes, alguns em termos menos categóricos, os tenham acabado por secundar. Começa por exemplo, Henrique Machado, o escriba de serviço no jornal “Correio da Manhã” - a lembrar, no estilo, o famigerado “Diário da Manhã” do tempo da ditadura salazarista -, por se referir ao blogue Rede Libertária, no qual participam as mais diversas expressões dos referenciais anarquistas portugueses, como “grupo extremista” e “movimento extremista” acusado, entre outras coisas curiosas, de “ameaçar de morte” o presidente da república, Cavaco Silva, e o primeiro-ministro, José Sócrates. Isto, baseando-se num poster colocado na Rede Libertária, em Janeiro de 2009 (após a “execução” à queima-roupa, pela polícia, do jovem Kuku, habitante de um dos muitos bairros pobres da área de Lisboa), dizendo “Eles exploram, roubam e mandam matar, nenhum polícia lhes mete uma bala na cabeça. Porque esperam?”, acompanhando as fotos daqueles dois políticos.

Isto teria motivado, em Setembro de 2009, o ataque da Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo da Polícia Judiciária a um local de Lisboa suspeito de apoiar tecnicamente o blogue da Rede Libertária, e a arbitrárias apreensões do equipamento informático ao seu proprietário, à sua detenção e instauração de um processo.

Também recentemente, a propósito do processo contra 11 pessoas por alegadamente terem resistido ao espancamento e prisão pela polícia de choque, em Lisboa, quando participavam numa “manifestação anti-autoritária contra o fascismo e o capitalismo”, em 25 de Abril de 2007, a imprensa habitual difundiu uma série de artigos, oriundos de fontes da polícia, em que para além de “inocentemente” se tomar por verdadeira a versão policial, se referenciam pessoas, divulgando nomes e alegados factos da sua vida pessoal, sem sequer ter em conta o tão querido “direito à privacidade”, tão utilizado para encobrir, isso sim, casos graves de corrupção, tráfico de influências e cambalachos de algumas altas figuras dos poderes políticos e económicos actuais. Quase escusado seria dizer que a mesma imprensa não se dignou em acompanhar nenhuma das sessões do dito julgamento, do qual a versão policial saiu completamente desmentida, e muito menos em noticiar que contra os acusados, entretanto absolvidos, não se provou nada em tribunal!

Já no fim de Maio, vimos a polícia a tentar justificar o espancamento gratuito de cinco jovens no Bairro Alto em Lisboa, em dia de manifestação nacional da CGTP, através da invenção de uma cilada anarquista de que a PSP teria sido alvo. A PSP chegou a qualificar os cinco jovens agredidos – e depois detidos e acusados de agressão contra a polícia! – “como próximos destes grupos anarquistas, libertários e anarco-sindicalistas”. Esta MENTIRA, profusamente difundida pelo Diário de Notícias, serviu mesmo para justificar o apelo à repressão contra os anarquistas feito por José Manuel Anes, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT): "Estes grupos são uma ameaça à segurança, particularmente nesta época, de crise económica e social. Apesar de poucos, são perigosos, violentos e estão sempre prontos a aproveitar-se de situações de confronto com as autoridades e ajuntamentos, para lançarem a confusão e a desordem (...) devem ser vigiados e reprimidos enquanto o grupo ainda tem uma dimensão controlável" (Diário de Notícias, 31/05/2010).

O mínimo que haverá a dizer sobre todas estas atoardas “jornalísticas” é que:

1º - “Extremistas” - e socialmente terroristas - são as medidas económicas e políticas dos poderes estabelecidos que visam fazer as populações trabalhadoras, empregadas e desempregadas, pagar as “crises” que são inerentes ao próprio funcionamento do actual sistema económico e político;

2º - Afigura-se sem sentido e descabido atribuir ao tal comentário publicado no blogue Rede Libertária uma “ameaça de morte” a Cavaco Silva e José Sócrates – a não ser que se acredite que a própria polícia o faria alguma vez!... Porque É A ELA que o comentário se refere: “nenhum polícia lhes mete uma bala na cabeça”…

3º - À maior parte da argumentação e estilo sensacionalista e confusionista das “informações” sobre os libertários portugueses inseridas nos últimos tempos em grande parte dos chamados “órgãos de comunicação social”, não se deverá atribuir qualquer seriedade ou valor informativo e jornalístico de facto “isento” - uma vez que unilateralmente se limitam, quase “ipsis verbis”, à transcrição das versões das próprias fontes policiais e governamentais.

4 º – Os nossos queridos governantes, assim como a classe de exploradores a que pertencem, têm perfeita consciência de que o sistema que governam se baseia sobre a exploração e opressão de tod@s nós, que trabalhamos e sofremos por um mísero salário – ou por não o ter sequer –, para sustentar os sempre crescentes lucros dos seus bancos e empresas, as suas fabulosas remunerações e prémios, as suas reformas milionárias, os seus faustosos estilos de vida,... Eles sabem que um sistema assim só se mantém através da violência e da mentira, e porque temem, mais que ninguém, a revolta dos de baixo, correm a reprimir – tanto quanto é possível sob a fachada da democracia – quem, como os anarquistas, luta por um meio social de efectiva liberdade e igualdade social.

Em conclusão, não nos revendo minimamente nas imagens que os poderes instituídos querem fazer passar à opinião pública sobre as correntes libertárias de intervenção social, REPUDIAMOS EM ABSOLUTO estas ridículas campanhas anti-anarquistas, afirmando que elas não conseguirão nem branquear as nossas raízes históricas na sociedade portuguesa como no mundo, nem calar ou paralisar o seu desenvolvimento e a sua cada vez maior influência local, regional, nacional e internacional, no horizonte de uma sociedade realmente livre, autogestionária e libertária, de mulheres e homens livres – coisa que a sociedade actual NÃO É!

Assumindo-se como uma herdeira dos referenciais libertários da antiga CGT (Confederação Geral do Trabalho), de orientação anarco-sindicalista e sindicalista revolucionária, que tanto influenciou, sobretudo entre os anos 20 e 30 do século passado, a sociedade portuguesa, a Secção Portuguesa da Associação Internacional d@s Trabalhadoras/es (AIT-SP), manifesta através do presente comunicado o seu total repúdio e desprezo pela miserável “informação”, parcial, particularista, não-isenta, nada séria e totalmente dependente dos órgãos do Poder (incluindo do Poder-dinheiro) que a maioria da chamada “comunicação social” vem desde há tempos, a propósito das correntes anarquistas, levando a efeito, apelando desde já a toda a opinião pública a que cada vez mais ganhe capacidade para ler nas entrelinhas o que não é dito pela grande imprensa oficial bem como a procurar outra informação sobre os factos e realidades do tempo presente em meios de informação alternativos e de contra-informação, boicotando assim a verdadeira DESINFORMAÇÃO dominante, como fiel “voz dos seus donos”, o Estado e o Capital – que é afinal aquilo que a maioria dos “mass media” oficiais são.

Agosto de 2010

Associação Internacional d@s Trabalhadoras/es – Secção Portuguesa
Núcleo AIT-SP Lisboa
Núcleo AIT-SP Porto (SOV.ait-sp)