quinta-feira, 19 de abril de 2012

Solidariedade total para com a Es.Col.A da Fontinha! Não ao despejo!

Vemos como tudo o que humaniza de alguma forma o espaço urbano e o torna reconhecível e especial , que confere à cidade a sua personalidade, a sua ambiência, o pano de fundo das memórias dos mais velhos, é deixado ao abandono ou mortificado em hotéis e espaços de consumo para os abastados. Em torno desse buraco negro de prédios antigos e belos deixados em ruínas que constitui o centro das nossas cidades, erguem-se, a grande custo e com o maior desprezo possível pela vida de quem tem por profissão construí-los, blocos disformes de betão onde apenas se descansa o corpo após mais um dia de trabalho.

Assim é o «problema urbano»: a ganância de proprietários e especuladores, que pretendem viver à custa de «fazer suar o seu dinheiro». Os prédios que são construídos para ficarem vazios. Os outros que são deixados vazios apenas para entrarem em ruína. As rendas insuportáveis que ainda deverão aumentar. A escravatura de trinta ou quarenta anos a um Banco até que uma pessoa possa finalmente dizer quem tem uma casa sua. A falta de espaços para tudo. A ausência de qualquer coisa que torne uma rua ou um bairro numa comunidade humana, em vez da mera coincidência no espaço de uma multidão de desconhecidos.

Mas esta situação é um estado de coisas buscado e desejado pelos detentores do poder político e económico. As câmaras vivem das licenças de construção, a Banca, do crédito à habitação, as construtoras, da construção, os proprietários, da especulação sobre os terrenos, que hão-de valer uma fortuna assim que se possa construir sobre eles. Vêem-se os resultados. E vê-se também como o Poder responde a quem tenta lutar contra estas coisas.

Assim aconteceu, esta manhã, com o despejo da antiga escola do Bairro da Fontinha, no Porto, onde funcionava desde há um ano o projecto Es.Col.A. Em face do apoio popular de que este projecto gozava e após uma tentativa gorada de despejo, a Câmara do Porto acabou prometendo a cedência do espaço, devoluto há cinco anos, caso os ocupantes se constituíssem em associação formal. A associação foi constituída, mas a cedência não veio: veio a exigência de assinarem um contrato onde acediam...ao seu próprio despejo. Tal proposta foi, evidentemente, recusada. A resposta da Câmara foi o envio do Corpo de Intervenção. Cerca das 10 da manhã, o bairro foi cercado por polícia fortemente armada, o edifício despejado, com o seu conteúdo a ser atirado pelas janelas, e seguidamente emparedado. Três pessoas foram detidas, e houve registo de agressões por parte da polícia, com uso, inclusive, de armas de choques eléctricos.

Por ruas que não sejam cemitérios, por edifícios que não sejam tumbas, recuperemos o espaço das nossas vidas!


Todo apoio para a Es.Col.A, liberdade imediata para os detidos!