Entretanto, as centrais sindicais negoceiam com os inimigos de que forma é menos dolorosa morrer: que nos matem à fome devagarinho, ou se a polícia deveria disparar directamente na cabeça a todos os que não respeitam o seu monopólio “revolucionário”.
Quando lemos os jornais, ficamos com a sensação que a rua está cheia de ladrões encapuçados que se passeiam livremente enquanto nos roubam e violam. Mas a realidade é que esses mesmos jornais pertencem aos verdadeiros ladrões que, esses sim, se passeiam por aí de fato e gravata impunemente e usam os polícias, pagos com o nosso dinheiro, para impor o medo e o terror entre os que se revoltam contra a sua ditadura democrática.
Para o cenário ficar completo - quando nem a fome, nem a polícia, nem as mentiras dos jornais nos conseguem controlar - entram em serviço os fascistas, outros mercenários assassinos que, com os seus discursos nacionalistas, patrióticos e racistas, tentam camuflar a realidade apontando os seus dedos ensanguentados na direcção dos imigrantes, como se eles fossem os culpados desta crise... ridículo...
É por tudo isto, e muito mais, que é cada vez mais fundamental sair à rua, para protestar, para agir, para avançarmos. Este 1º de Maio voltaremos a fazê-lo, pois o contrário seria pactuar com a repressão e aceitar o medo.
Queremos desfilar com todos os que não aceitam que a economia jogue xadrez com as nossas vidas. Os nossos problemas não são apenas os que nos dizem respeito directamente enquanto habitantes de Setúbal, enquanto jovens, trabalhadores, desempregados, homens, crianças ou mulheres. O nosso problema é com a ordem imposta que nos faz ser escravos e a nossa solução é passarmos a ser resistentes, insubmissos e autónomos.
Mas fazêmo-lo sem lideres nem liderados, sem dirigentes nem dirigidos. No ano passado, a PSP emboscou a manifestação no largo da Fonte Nova quando esta tinha acabado e estava no seu momento mais vulnerável, numa atitude não só de violência extrema como de cobardia. Atacaram porque não nos sentiram submissos, porque reagimos de igual para igual, porque não comemos e calamos. Neste ano que passou a mesma força reprimiu e desancou em inúmeros indivíduos em fábricas, em piquetes de greve, em manifestações, em bairros sociais e nas universidades, e na última greve geral voltaram a mostrar o seu desprezo pela dignidade humana.
Mas cada vez somos mais a dizer basta, cada vez temos menos a perder, e cada vez mais contra-atacamos. Para nós o desespero acabou, e chegou a hora de irmos recuperando as nossas vidas.
1 de Maio de 2012, a partir das 13:30 concentramo-nos no largo da Misericórdia, em Setúbal. Às 14:30 parte a manifestação.
Terra Livre