Ao mesmo tempo que se degradam as condições de vida da maioria da população, as fatias da riqueza criada através da exploração do trabalho são cada vez mais desigualmente distribuídas, cabendo a uma pequena elite de administradores e accionistas das grandes empresas e, particularmente, da banca a parte de leão. Perante esta situação de injustiça e miséria crescentes, sendo de esperar o aumento exponencial da contestação social, que já se começa a verificar, ainda que os media o queiram encobrir, o Estado reforça os seus meios de repressão, e os diversos corpos policiais agem cada vez mais dura e impunemente, controlando, vigiando e reprimindo os movimentos e as lutas emergentes.
Não nos deve espantar que os meios policiais sejam utilizados para defender a propriedade privada e os interesses dos patrões contra os dos trabalhadores. É essa a função essencial do Estado, que a morte lenta das suas políticas sociais vai deixando de novo a descoberto.
Mas o ambiente repressivo não é da exclusiva responsabilidade do Estado, vigora também nos locais de trabalho, onde a crescente precarização tornou impossível, para quem quer manter o seu ganha-pão, erguer a mínima voz de contestação. E este ambiente repressivo continuará a fortalecer-se enquanto não formos capazes de opor ao poder e à bufaria uma forte barreira de solidariedade e acção.
Só a solidariedade entre as pessoas da mesma condição social, vítimas da repressão estatal e patronal, e a prática da acção directa contra os que nos exploram e oprimem podem fazer avançar a nossa luta, a luta por uma vida melhor em liberdade.
Associação Internacional d@s Trabalhador@s -Secção Portuguesa
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Alguns casos recentes de repressão policial e judicial
- 25 de Abril de 2007 – O Corpo de Intervenção da PSP carregou sobre uma manifestação anti-autoritária contra o fascismo e o capitalismo em plena Rua do Carmo em Lisboa, com o claro objectivo de agredir o maior número de manifestantes. Onze manifestantes foram detidos e são agora acusados de “agressões e injúrias a agentes da autoridade”.
- Julho de 2007 – Várias pessoas que se manifestavam no Porto contra o corte de carreiras da STCP foram identificadas pela polícia e vieram a ser constituídas arguidas por “manifestação ilegal”.
- 17 de Janeiro de 2008 - Um sindicalista foi condenado pelo Tribunal de Oeiras a 75 dias de prisão por “manifestação ilegal”, devido à sua participação numa manifestação de trabalhadores da construtora Pereira da Costa, decidida em plenário pelos mesmos e não comunicada ao Governo Civil, em Janeiro de 2005. É a primeira pena de prisão por “manifestação ilegal” em Portugal desde o 25 de Abril de 1974.
- 8 de Fevereiro de 2008 – A PSP carregou à bastonada sobre dezenas de pessoas que protestavam contra o despejo do Grémio Lisbonense, associação cultural e recreativa situada na Baixa de Lisboa, através da ocupação da escadaria do prédio. Várias pessoas receberam tratamento hospitalar e um jovem detido foi humilhado e espancado na esquadra.
- 6 de Março de 2008 – A GNR carregou sobre um piquete dos trabalhadores da Sisáqua, empresa que explora a Estação de Tratamento de Águas Residuais de Sines, quando estes se concentravam em frente aos portões da empresa. A greve protagonizada por estes trabalhadores, que reivindicavam melhores condições de segurança no trabalho, a melhoria do meio ambiente e aumentos salariais, durava há já um mês.
- Março de 2008 - Na véspera da manifestação dos professores em Lisboa, agentes da PSP visitaram diversas escolas do país com o intuito de saber quantos professores se deslocariam à manifestação.
- Abril de 2008 – A simbólica acção do movimento Verde Eufémia contra o cultivo de organismos geneticamente modificados, realizada no Verão do ano passado, através da destruição de um hectare de uma plantação de milho transgénico em Silves, foi classificada pelas autoridades portuguesas como “acto terrorista” e incluída este mês no relatório da Europol sobre actividades “terroristas” na União Europeia.