Dos nossos companheiros da KRAS (secção russa da AIT), chegaram-nos informações acerca da situação social na Rússia e das lutas sociais e libertárias que irromperam neste país, nos últimos meses.
Carestia de vida e greves na Rússia
O último ano na Rússia foi marcado por uma acentuada degradação das condições de vida, associada à inflação galopante (os preços subiram 50 a 70% entre Janeiro e Novembro de 2007). Esta degradação nas condições de vida da maioria dos trabalhadores tem levado à irrupção de diversas greves reivindicando aumentos salariais.
Segundo a KRAS, esta situação deve-se à estrutura criminosa do sistema social, político e económico da Rússia, cujo único objectivo é, através de um sistema de monopólios, providenciar a prosperidade a uma pirâmide mafiosa de novos-ricos e funcionários estatais, no topo da qual está o senhor Putin, cuja riqueza não declarada perfaz cerca de 40 biliões de dólares.
Perante este sistema mafioso, os trabalhadores que entram em greve podem esperar apenas uma brutal repressão. Uma vez que muitos dos actuais patrões são ex-oficiais do KGB, o significado da palavra “negociação” é-lhes desconhecido. Quase todas as greves dos últimos meses foram, segundo a secção russa da AIT, declaradas ilegais e alguns dirigentes sindicais foram mesmo atacados pela polícia e pelas máfias.
No dia 20 de Novembro, iniciou-se uma greve na fábrica Ford de São Petersburgo, abrangendo 1700 dos 2200 trabalhadores desta unidade, sob a reivindicação de aumentos de 30-40% (nada mais do que uma mera compensação face à elevada inflação). A fábrica foi ocupada por forças de polícia especiais chamadas “OMON”. Militantes da KRAS iniciaram uma campanha de propaganda anarquista e contra os sindicatos oficiais, apelando aos trabalhadores para que deixem de obedecer aos líderes, substituindo-os por assembleias-gerais onde se tomem todas as decisões. Isto despertou a ira destes líderes sindicais. Mas apesar de conhecerem a ineficácia dos sindicatos, os trabalhadores hesitaram em iniciar outras formas de luta mais eficazes, como a sabotagem, por temerem a repressão legal e policial.
Também pela mesma altura, em São Petersburgo, decorria uma greve dos trabalhadores portuários – iniciada a 13 de Novembro –, que paralisou o porto desta cidade e foi declarada pelos tribunais como sendo ilegal. Também aqui os companheiros da KRAS tentaram chegar directamente aos trabalhadores, ultrapassando os líderes dos sindicatos, que segundos eles, “dão listas dos seus membros aos patrões, terminam as greves antes de começarem as negociações e após veredictos dos tribunais, ensinando os trabalhadores a obedecer à lei”.
Residentes de Moscovo em luta contra condomínios de luxo
Membros e simpatizantes da KRAS têm participado activamente na luta dos habitantes de Moscovo contra a construção descontrolada de condomínios de luxo destinados às elites da sociedade russa. Os residentes estão descontentes com o facto de a construção destes condomínios acarretar frequentemente a destruição de jardins e outros espaços públicos, e de muitas vezes representar um perigo para as fundações das suas casas.
Os protestos são frequentemente acompanhados de bloqueios das ruas ou dos estaleiros de construção. A repressão por parte das autoridades não se tem feito esperar, a polícia tem recorrido a bastonadas e a disparos para o ar para afastar as pessoas. Em alguns casos foram usados membros das máfias para intimidar os manifestantes.
Alguns anarquistas foram detidos durante os protestos. A 8 de Outubro, no decurso de um protesto na Rua Chertanovskaya em Moscovo, a polícia deteve 19 pessoas que bloqueavam a rua, entre as quais 6 membros e simpatizantes da KRAS. Algumas pessoas foram brutalmente espancadas durante a detenção.
Repressão contra estudantes anarquistas de Petrozhavodsk
No início do novo semestre académico, estudantes libertários iniciaram uma campanha contra a organização estudantil oficial na Universidade de Petrozhadovsk (uma cidade no Noroeste da Federação Russa). Esta organização é um pseudo-sindicato que, longe de defender os interesses dos estudantes, está integrada na Nashi – uma organização de juventude pró-Putin financiada pelo Kremlin e conhecida por atacar fisicamente as organizações juvenis de oposição. Os anarquistas organizaram uma campanha massiva contra a Nashi, com autocolantes e panfletos, encorajarando os estudantes a boicotar a organização estudantil oficial e a participar na fundação de um “Sindicato Livre e Alternativo de Estudantes” (ASSP). Os objectivos imediatos do ASSP são a luta contra a privatização do ensino superior, contra os exames nacionais (em que a corrupção predomina) e contra a revogação das leis de isenção do serviço militar.
O boicote à organização estudantil oficial foi um sucesso, tendo as inscrições no mesmo decrescido em 70%.
A 8 de Outubro, os estudantes anti-Putin organizaram uma acção contra a celebração do aniversário de Putin, promovida pela organização estudantil oficial. Apareceram na “celebração”, empunhando cartazes e gritando slogans que ridicularizavam a figura do presidente russo e expunham o carácter ditatorial do seu regime, e acabaram por ser atacados pelos seguranças da universidade. Todos os participantes na acção conseguiram escapar, apesar de a polícia os ter procurado pelas ruas durante toda a noite.
Esta acção ganhou uma grande atenção pública e alertou o FSB (ex-KGB), que conseguiu isolar alguns estudantes e acusá-los de participação na acção. Um estudante foi raptado da sua faculdade, levado a tribunal e, sem direito a advogado, multado em 1000 rublos (30 euros – o salário, por exemplo, de um médico ou professor na Rússia é de 150 euros) por participação numa manifestação ilegal. Outros foram convidados pela polícia para “conversas informais”. Um jornalista que pretendia fazer uma reportagem sobre o Sindicato Livre e Alternativo de Estudantes foi informado de que tal tópico era “indesejável”.
A 24 de Outubro, um outro participante da acção foi levado a tribunal, acusado de participação em piquete ilegal, tendo sido condenando a pagar uma multa de 1000 rublos. A Nashi também formou um esquadrão para, com a cooperação da polícia, destruir os anúncios de uma reunião da ASSP contra a comercialização da educação.
De acordo com os companheiros russos, não há dúvida de que a repressão contra os dissidentes dentro da universidade vai continuar, da mesma forma que continuará a luta contra a comercialização da educação e contra os lacaios do sistema universitário.
Carestia de vida e greves na Rússia
O último ano na Rússia foi marcado por uma acentuada degradação das condições de vida, associada à inflação galopante (os preços subiram 50 a 70% entre Janeiro e Novembro de 2007). Esta degradação nas condições de vida da maioria dos trabalhadores tem levado à irrupção de diversas greves reivindicando aumentos salariais.
Segundo a KRAS, esta situação deve-se à estrutura criminosa do sistema social, político e económico da Rússia, cujo único objectivo é, através de um sistema de monopólios, providenciar a prosperidade a uma pirâmide mafiosa de novos-ricos e funcionários estatais, no topo da qual está o senhor Putin, cuja riqueza não declarada perfaz cerca de 40 biliões de dólares.
Perante este sistema mafioso, os trabalhadores que entram em greve podem esperar apenas uma brutal repressão. Uma vez que muitos dos actuais patrões são ex-oficiais do KGB, o significado da palavra “negociação” é-lhes desconhecido. Quase todas as greves dos últimos meses foram, segundo a secção russa da AIT, declaradas ilegais e alguns dirigentes sindicais foram mesmo atacados pela polícia e pelas máfias.
No dia 20 de Novembro, iniciou-se uma greve na fábrica Ford de São Petersburgo, abrangendo 1700 dos 2200 trabalhadores desta unidade, sob a reivindicação de aumentos de 30-40% (nada mais do que uma mera compensação face à elevada inflação). A fábrica foi ocupada por forças de polícia especiais chamadas “OMON”. Militantes da KRAS iniciaram uma campanha de propaganda anarquista e contra os sindicatos oficiais, apelando aos trabalhadores para que deixem de obedecer aos líderes, substituindo-os por assembleias-gerais onde se tomem todas as decisões. Isto despertou a ira destes líderes sindicais. Mas apesar de conhecerem a ineficácia dos sindicatos, os trabalhadores hesitaram em iniciar outras formas de luta mais eficazes, como a sabotagem, por temerem a repressão legal e policial.
Também pela mesma altura, em São Petersburgo, decorria uma greve dos trabalhadores portuários – iniciada a 13 de Novembro –, que paralisou o porto desta cidade e foi declarada pelos tribunais como sendo ilegal. Também aqui os companheiros da KRAS tentaram chegar directamente aos trabalhadores, ultrapassando os líderes dos sindicatos, que segundos eles, “dão listas dos seus membros aos patrões, terminam as greves antes de começarem as negociações e após veredictos dos tribunais, ensinando os trabalhadores a obedecer à lei”.
Residentes de Moscovo em luta contra condomínios de luxo
Membros e simpatizantes da KRAS têm participado activamente na luta dos habitantes de Moscovo contra a construção descontrolada de condomínios de luxo destinados às elites da sociedade russa. Os residentes estão descontentes com o facto de a construção destes condomínios acarretar frequentemente a destruição de jardins e outros espaços públicos, e de muitas vezes representar um perigo para as fundações das suas casas.
Os protestos são frequentemente acompanhados de bloqueios das ruas ou dos estaleiros de construção. A repressão por parte das autoridades não se tem feito esperar, a polícia tem recorrido a bastonadas e a disparos para o ar para afastar as pessoas. Em alguns casos foram usados membros das máfias para intimidar os manifestantes.
Alguns anarquistas foram detidos durante os protestos. A 8 de Outubro, no decurso de um protesto na Rua Chertanovskaya em Moscovo, a polícia deteve 19 pessoas que bloqueavam a rua, entre as quais 6 membros e simpatizantes da KRAS. Algumas pessoas foram brutalmente espancadas durante a detenção.
Repressão contra estudantes anarquistas de Petrozhavodsk
No início do novo semestre académico, estudantes libertários iniciaram uma campanha contra a organização estudantil oficial na Universidade de Petrozhadovsk (uma cidade no Noroeste da Federação Russa). Esta organização é um pseudo-sindicato que, longe de defender os interesses dos estudantes, está integrada na Nashi – uma organização de juventude pró-Putin financiada pelo Kremlin e conhecida por atacar fisicamente as organizações juvenis de oposição. Os anarquistas organizaram uma campanha massiva contra a Nashi, com autocolantes e panfletos, encorajarando os estudantes a boicotar a organização estudantil oficial e a participar na fundação de um “Sindicato Livre e Alternativo de Estudantes” (ASSP). Os objectivos imediatos do ASSP são a luta contra a privatização do ensino superior, contra os exames nacionais (em que a corrupção predomina) e contra a revogação das leis de isenção do serviço militar.
O boicote à organização estudantil oficial foi um sucesso, tendo as inscrições no mesmo decrescido em 70%.
A 8 de Outubro, os estudantes anti-Putin organizaram uma acção contra a celebração do aniversário de Putin, promovida pela organização estudantil oficial. Apareceram na “celebração”, empunhando cartazes e gritando slogans que ridicularizavam a figura do presidente russo e expunham o carácter ditatorial do seu regime, e acabaram por ser atacados pelos seguranças da universidade. Todos os participantes na acção conseguiram escapar, apesar de a polícia os ter procurado pelas ruas durante toda a noite.
Esta acção ganhou uma grande atenção pública e alertou o FSB (ex-KGB), que conseguiu isolar alguns estudantes e acusá-los de participação na acção. Um estudante foi raptado da sua faculdade, levado a tribunal e, sem direito a advogado, multado em 1000 rublos (30 euros – o salário, por exemplo, de um médico ou professor na Rússia é de 150 euros) por participação numa manifestação ilegal. Outros foram convidados pela polícia para “conversas informais”. Um jornalista que pretendia fazer uma reportagem sobre o Sindicato Livre e Alternativo de Estudantes foi informado de que tal tópico era “indesejável”.
A 24 de Outubro, um outro participante da acção foi levado a tribunal, acusado de participação em piquete ilegal, tendo sido condenando a pagar uma multa de 1000 rublos. A Nashi também formou um esquadrão para, com a cooperação da polícia, destruir os anúncios de uma reunião da ASSP contra a comercialização da educação.
De acordo com os companheiros russos, não há dúvida de que a repressão contra os dissidentes dentro da universidade vai continuar, da mesma forma que continuará a luta contra a comercialização da educação e contra os lacaios do sistema universitário.